Hey, você aí

Não, não quero seu dinheiro.
Estava mais pra dizer 'Hey Jude', ou algo assim.
Bom, este blog é sobre mim. Não apenas eu, mas o que penso, sinto, etc. Já foi meio invasivo, já foi vazio. E no fundo ainda é legal, pra mim. Meu cantinho de desabafo e filosofia, se assim posso dizer.
Eu sou um livro aberto. O que quiser saber, pode achar aqui. E o que não conseguir, é porque ainda vamos nos esbarrar por esta vida irônica.

The Beatles

The Beatles
Abbey Road

quarta-feira, 5 de abril de 2023

Demorou, mas aconteceu

 É a primeira vez, em mais de um ano, que venho aqui escrever por felicidade. 

Chega a ser curioso como é fácil, pro ser humano, se acostumar à rotina, seja ela deplorável ou maravilhosa. E quando é deplorável, torna-se um ciclo difícil de romper. 

Por isso, talvez, que tenha demorado tanto pras coisas mudarem. A dor que eu senti me derrubou de tamanha forma que, com a soma das falhas que viriam em seguida, acabei me acostumando ao fracasso e perdendo a esperança em dias melhores. Em algum momento, não sei exatamente quando, consegui pelo menos voltar a acreditar e me esforçar. 

Os fracassos seguiram, mas dessa vez, eu tinha parado de me acostumar à sensação, e ao mesmo tempo, não esmorecia. Segui dando meu melhor, dia após dia, exatamente como eu precisava fazer por mim mesmo, como eu sempre fui, em verdade, na vida. Acho que nunca tive medo de errar, apenas de não conseguir ser o bastante. E tive que aprender que mesmo o meu melhor, às vezes, não é o bastante. Que muita coisa não dependia somente de mim. E que ainda assim, eu precisava seguir fazendo o melhor que podia. 

São coisas clichês que qualquer um pode ler em um livro estúpido de auto-ajuda, ou ser ainda mais idiota e pagar um coach pra ouvir ele te dizer a mesma merda. Coisas que em 5 minutos você conversando com qualquer colega vêm à mente. Mas nem por isso, mesmo sendo tão fácil repetir essas palavras prontas, nem por isso elas ficam na cabeça, muito menos se traduzem em atitudes. 

E ainda assim, ainda reconhecendo que eu precisava acreditar e que ao mesmo tempo era sim difícil acreditar e seguir com tudo sendo catástrofe, eu ESCOLHI acreditar. Por mais frustrante que fosse. Por mais cômodo que seria simplesmente aceitar o fracasso eterno e bancar a vítima no fundo do poço pra sempre. Mesmo que o mundo nos tire tudo que precisamos e merecemos, enquanto ainda pudermos fazer uma escolha pra mudar a situação, a escolha é nossa. 

Nesses devaneios, entre o desespero e a esperança, a notícia veio. E, como manda o roteiro da minha história, da forma mais aleatória possível. Foi uma profusão de sentimentos. Vontade de chorar, de gritar, pular, sair socando o ar e mandando todo mundo que duvidou e que me deixou na pior tomar no cu. E acima de tudo isso, um alívio sem igual. Gratidão por mim mesmo, por não ter desistido, pela minha mãe (que apesar de ter me infernizado às vezes, só queria meu bem e tentou me apoiar), e principalmente, pelos amigos que ficaram na hora que eu mergulhei na pior. 

Pouco mais de um ano atrás, tudo virou de cabeça pra baixo e eu tive que aprender a ser feliz por mim, batalhar somente por mim, e deixar pra trás o que não veio pra ficar. Tive que aprender tudo o mais que já disse. E principalmente, voltar a reconhecer o meu próprio valor ao invés de ficar esperando ser reconhecido e valorizado por qualquer pessoa, muito menos quem não sabe diferenciar esgoto de água mineral. 

Eu consegui. Eu cheguei lá. E só foi o primeiro passo. Boa parte do caminho que eu já tinha traçado agora é PALPÁVEL. É questão de QUANDO, não mais de possibilidade. 

E ainda dá pra sonhar mais alto com o passar do tempo. 

Não sou adepto da meritocracia. Acho que os meios que nos são fornecidos muitas vezes  - se não a maioria delas - determinam muito o que podemos fazer da vida. Apesar disso: precisei de terapia, muito apoio e muita perseverança, mas eu cheguei lá e MERECIA isso. Mereço, pra caralho. Se fosse outra pessoa no meu lugar, talvez não suportasse. Engoli em seco MUITA merda, mas eu virei o jogo NA MARRA. Vou fazer e acontecer, já estou fazendo. 

A partir de agora é ser foguete. Aqui não se aceita retrocesso, nem comodismo. Não tem ré. Tá com medo de quando apertar? Cai fora. Já deixo avisado: só aceito parcerias, só aceito quem vai voar junto. Pegar carona quando a gente tá voando é fácil, isso aí até poeira faz. Vai lá encarar o processo, pra ver se aguenta. Não é pra qualquer um. 

Eu não sou, definitivamente.

sábado, 1 de outubro de 2022

Aprendendo a ser sem você

Oi, tudo bem? Faz algum tempo. 

É engraçado que eu ainda me refira como se você estivesse lendo, mas algo em mim diz que sim, houve alguma hora que você passou por aqui. Espero que não tenha sido na época em que eu não excluí o último texto, que tinha uma terrível vibe suicida. 

Eu não vou negar, já que eu sempre preferi a honestidade: pensei que ia enlouquecer e morrer ou me matar de alguma forma. Esse pensamento veio sim à minha cabeça. Eu precisei ter forças pra reconhecer isso desde o primeiro dia, pra que eu pudesse procurar terapia. E foi e tem sido um longo processo, desde então.

Eu fui contra mim mesmo em algumas situações. Te procurei quando deveria ter ficado na minha, e deixei de procurar quando senti que devia. Fiquei tentando descobrir como você estava em algumas vezes, e os rastros que você deixava só me magoavam mais. Parei com isso, que eu queria nem ter começado. 

É porque não era só o amor e a saudade. Nós éramos melhores amigos e eu precisei de você. Bem como sabia que em algum grau talvez você tenha precisado de mim. E isso piorava o luto, a dor por não estarmos e não sermos mais juntos. Eu me tornei dependente de você e nunca percebi.

Ou negava que era, também. Eu sempre fui assim, teimoso, você bem sabe. Você é pior nesse quesito. Mas não é sobre você que eu vim falar. É sobre mim. 

Estou há alguns meses me fortificando. Não apenas focando em mim, mas em me conhecer de verdade, além do que eu já sei. Trabalhando meus traumas, meus medos e limitações. Estou abrindo a cabeça como nunca fiz antes. Até espiritualmente. Estou tentando ser mais atento aos sinais que a vida dá. Não me apegar somente nas minhas convicções, mas também no entendimento de que, às vezes, um passo pra trás ajuda a dar mais passos pra frente. 

Parei de questionar a validade dos meus esforços. Todos foram necessários, pra bem ou pra mal. Estou atento ao que puder aparecer, quero explorar novos caminhos. Não quero ficar esperando o emprego perfeito, porque tentei só esse tipo de situação e não deu certo. No mundo de hoje, que todo mundo é migrante, eu não deveria me achar tão especial a ponto de achar que não faria migrações, não encontraria novos rumos pra atingir meus objetivos. E só dessa vez eu vou te alfinetar: coragem pra isso eu sempre tive, nunca senti a necessidade, mas nunca faltou coragem. 

Mas eu sou especial em algo. Eu sei que vou conseguir ser feliz. E sei que eu mereço isso de forma plena, de um jeito que seja igual ou muito melhor do que eu consigo conceber e desejo. Batalhei e batalho por isso. Vou seguir batalhando. Eu nunca fui de me entregar, e reler alguns textos dos últimos meses me faz perceber o quão baixo eu fui por você.

Não é que eu não tenha errado com você. Ser dependente é um erro, bota pressão desnecessária, mesmo que eu não tenha tido a intenção. Sei que fiz besteiras, mesmo que não muitas. Você tem a sua cota também. Mas eu precisava ter me respeitado mais. Te situado com mais veemência do que eu enxergava e me afastado quando percebi que você não estava pronta pro que eu mereço. 

E talvez você nunca esteja, e c'est la vie. 

É, esse é o ponto. Não, eu nunca deixei de amar você, e vai demorar um pouco ainda a passar. Mas eu estou finalmente disposto a deixar pra trás. Começar a ser mais ativo nesse sentido. Vai ter algum dia que eu vou arquivar fotos, mesmo que eu chore. Vai ter um dia que eu não vou querer mais te mandar mensagem, mesmo que eu sinta saudades. E eu resolvi abraçar esse futuro de vez ao invés de impedi-lo de chegar.

Até porque, convenhamos, você não é mais a mesma pessoa. E eu não sou. Eu estou mudando. Você, imagino eu, está em busca de mudar também. Mesmo que um dia você bata na minha porta novamente, e o sentimento continue o mesmo entre nós 2, você será outra pessoa, e me prender a esse zumbi seu que tenho na memória é um atraso pra ambos. E se você não bater na minha porta, alguém vai. 

E eu estou cansado de achar que ninguém vai ou que quem vai bater é pior que você. Vai ser melhor, seja você melhor ou outra pessoa. É isso que eu mereço. Não esse silêncio besta, essa saudade desmedida e essa culpa que nunca foi minha. 

E não, caso você ainda tenha dúvidas, não estou fechando a porta pra você. Eu só cansei de desperdiçar minha vida segurando a porta sem você nem ter pedido, sem você mostrar real interesse. E isso é a minha culpa. Não ter me respeitado. Não saber que o meu valor é maior que tudo que você possa me proporcionar. 

Não tenho mais tanta raiva. Sinceramente, nem pena. Você escolheu o que achou melhor pra você. Passei muito tempo discordando da sua decisão, e ainda acho que foi errada, mas eu devo admitir que pelo menos, me serviu pra passar esse processo. De me entender, ir a fundo nos meus traumas. Não repetir o ciclo dos meus pais. Abrir a cabeça. E reconhecer que eu mereço ser feliz exatamente no tamanho dos meus sonhos, não menos que isso. 

Um dia, pelos velhos tempos, quero te encontrar e contar as novidades. Desse tempo, inclusive. Vai gerar mais risadas do que parece agora. Mas esteja você no meu futuro ou não, saiba que agora eu sei que vou ser feliz. Só não perca mais tempo se decidir fazer parte disso, porque oficialmente a porta está aberta pra quem fizer por onde. E aí se você ficar triste vai ter que engolir o choro. 

Cuide-se. Te amo. Até.

quarta-feira, 9 de março de 2022

Dia 1 sem você

  Pensei que eu nunca mais fosse escrever. 

Pensei também, por exemplo, que nós nunca terminaríamos. 

Quer dizer, tecnicamente, você que quis terminar, com razões maduras pra tal - sem outros interesses românticos (se você foi sincera como acho que foi), sem querer prolongar uma situação de você não estar bem com  a vida e tudo o mais. Eu aceitei porque te forçar não me levaria a lugar algum. E cá estamos. 

Noite passada foi uma das piores noites da minha vida. Dormi pouco, disfarçava o choro pra não acordar ninguém e perguntava ao universo e todas as entidades possíveis por quê isso estava acontecendo. Percebi que eu precisaria encontrar formas de desabafar, pra não enlouquecer. 

Então cá estou. Estamos, talvez, se você por um milagre decidir ler. Não sei se é bom ou ruim se você ler. Mas, também, você não sabia se era bom ou ruim que continuássemos juntos, e da mesma forma que quer descobrir se estar separado te faz bem, preciso descobrir se voltar a desabafar vai fazer. 

Ironia: meu último post foi uma despedida do blog pra "nunca mais ou até a crise dos 27, pra evitar de entrar no Clube". O famoso Clube dos 27: artistas e celebridades de sucesso, que ainda assim não foram capazes de encontrar a felicidade e morreram como decorrência dessa busca nas fontes erradas (overdose) ou diretamente por suicídio. Cá estou eu, 27 anos, entendendo como parte dos meus ídolos se sentia. Não pretendo coisas tão radicais, então escrevo. 

Eu sinto raiva de você, sim, mas não é nada gritante. A raiva é pela impotência e pela injustiça da situação. Não há nada nesse mundo que eu já não tenha feito pra te fazer feliz e te ajudar a se encontrar, a falta de resultado só cabe a você. Mas eu esperava, sim, que no momento em que todas as portas da minha vida têm se fechado e me tratado como o sinônimo do fracasso, você estivesse do meu lado como eu estive pra você. E apesar de tudo, ainda quero estar. 

Sinto mais medo. Medo do que vai ser de mim sem você. Acho que nunca percebeu né? Que eu precisava de você talvez mais que você de mim? Talvez seja exagero meu, mas eu não consigo ver de outra forma e é assim que me sinto. Mais do que o costume, 5 anos juntos me fizeram ter a confiança e a certeza de que você estaria do meu lado e nós seríamos felizes, como vínhamos sendo como casal. Eu nunca me iludi sobre seus problemas e como te afetavam, e sempre tentei te ajudar. Mas eu ainda assim tinha como certo que você ia superar tudo e não se sentiria mais uma pessoa inferior.

Sinto também saudade, já. Saudade que me faz questionar se você realmente parou pra pensar em cada detalhe do que significa terminar. Você pensou no que vai acontecer quando você for ver um filme que te lembre de mim? Vi "The Batman" ontem e queria comentar cada segundo dele contigo na volta pra casa. Você não estava láVocê pensou o que vai acontecer quando for ver "SnK"? Quando escutar as músicas que eu te mandei um dia? Você pensou como vai se sentir quando eu tiver a coragem de excluir as fotos do Instagram? E as tatuagens que a gente ia tirar pra fazer? E outros planos legais?

Parece pouca coisa, né. Mas como você vai se sentir quando cada uma dessas pequenas coisas nossas te causar dor e saudade ao invés de prazer compartilhado? Você obviamente não vai entrar no Facebook pra atualizar status e vai deixar pra mim essa bomba, mas em contrapartida vai ter que se virar pra responder as pessoas que você obviamente não avisou. O que você vai fazer com o nosso porta retrato? Vai jogar fora? Vai guardar na esperança de que consiga se resolver em tempo e me procure? Ou vai ficar encolhida na sua mesa, olhando pra ele sem coragem de tomar uma atitude? Se jogar fora, significa que não quer ter esperança. Se guardar, não deveria ter terminado. Se não se decidir sobre, vai sofrer ainda mais. 

Você pensou nessas pequenas coisas te torturando? Eu tenho certeza absoluta que não. Nós compartilhamos coisas demais pra você ter antecipado o impacto disso. Esse sofrimento, na minha opinião, é desnecessário. Mas se é o caminho que você quer escolher, eu não posso fazer nada. 

Eu só queria poder estalar um clique mágico na sua cabeça pra você se sentir melhor. Não sofrer tanto com faculdade. Não ficar se achando uma pessoa ruim ou sem talento. Eu estou com 27 anos, desempregado na casa de mamãe sem passar nos concursos e agora chutado por você: e AINDA não me acho uma pessoa ruim ou sem talento. E isso não é ego, é realidade. Eu queria, mais que tudo nesse mundo, que você conseguisse estar feliz. 

E é isso que mais me dói. Você disse que me ama também. Que era feliz no namoro. Eu fiz a minha parte. Você não fez a sua consigo e com as outras coisas. Não é culpa minha, não tem o que eu possa fazer, mas eu queria demais poder fazer alguma coisa por você. 

Hoje mandei mensagem pra sua irmã e pra sua melhor amiga. Não pedi pra intercederem em meu favor nem nada do tipo. Pedi pra cuidarem de você. Fazerem você conversar nem que seja arrastada, já que eu era a única pessoa que sabia que só assim pra você botar pra fora as coisas. É o máximo que posso. Me resta confiar que você seja feliz. 

Pretendo mandar uma mensagem no seu aniversário, que tá próximo. Se você quiser falar comigo antes ou se encontrar, é óbvio que eu vou. Enfim. 

Não sei se vou te esquecer. E nesse momento, eu não quero. Te amo muito, e sei que podemos ter muito mais pela frente. Mas eu preciso que você sinta confiança nisso também. 

Fique bem. Eu estou péssimo e no fundo do poço, mas eu sobrevivo. Até pra te provar que dá pra dar a volta por cima...

sexta-feira, 9 de agosto de 2019

O fim?

Faz muito tempo que não dou as caras aqui. 
Também faz tempo que eu não sinto que tenha algo a dizer, pra mim mesmo. 

Estive refletindo sobre isso ultimamente. Não posso ser dramático e me culpar total e absolutamente pela escassez de produção artística. Eu, como qualquer outro jovem da minha idade que não nasceu no berço de ouro, tenho que estudar, trabalhar e quando possível me dar descanso. Isso é mais que suficiente pra retirar o tempo necessário ao ócio criativo e ao exercício da arte, em suas mais diversas formas. 
Mais que isso, fica evidente que viver de arte é cada vez menos uma opção, salvo no caso de tudo dar uma acalmada e eu finalmente ter o tempo junto com o dinheiro - finalmente, presente de alguma forma - necessário pra financiar a primeira fase dessa tentativa hipotética. 

Porém, vai muito além desse quesito "sem tempo". Verdade seja dita, a música ainda segue viva em mim, ferve e me dá ideias que volta e meia eu sento e anoto quando consigo focar. As melodias seguem na cabeça, e sei que naturalmente serão transcritas em harmonia com o tempo disponível. Mas escrever, em si, como eu sempre fiz aqui por anos, tem sido uma tarefa árdua e rara. E essa falta do que escrever é o que sinto que explica. 

Basicamente, uma forma de ver a situação é que eu era - se ainda não deixei de ser - um cara muito dramático, como todo adolescente é. Isso facilitou pra sair escrevendo, e tornar o ato fácil. Qualquer meia porcaria ou paixonite era digna de um grande relato épico, embora eu deva ser franco e justo comigo mesmo de admitir que sim, houveram histórias de fato inconcebíveis para o roteiro aceitável da vida mediana. 
Dessa forma, depois que as coisas começaram a engatar de maneira sequencial e extremamente feliz, os dramas começaram a desaparecer.

Verdade seja dita, eu sempre foquei mais em pequenos dramas cotidianos e emocionais de fácil resolução, pois os grandes e indomáveis assim o são e eu acostumei desde cedo que não havia muito o que fazer. Falar sobre o divórcio traumático dos meus pais, a terrível degradação psicológica do meu pai num abjeto protofascista, a dificuldade de estudar residindo numa casa com mais de 30 cachorros e a família brigada, tudo isso foram coisas que sempre escaparam ao meu controle. Assim sendo, não é que eu as ignorasse, mas aguentava como podia - ainda aguento uma ou outra - e traçava meu caminho em busca da alforria, esperando o momento. As coisas que de fato eu podia mudar e nas quais eu me embananava eram praticamente sempre relacionadas a paixonites e pseudo-tramas acadêmicos. 

Como o tempo é rei, eventualmente eu aprendi a lidar com esses pequenos dramas desnecessários. Alguma hora eu ia ter que amadurecer. E, de quebra, alguns dos grandes traumas também se desfizeram. Eu não vou medir palavras: vivo a melhor fase da minha vida, desde sempre. Realizando alguns sonhos, descobrindo outros, com estabilidade e felicidade. Um relacionamento feliz e sadio, cheio de amor. Mestrado e até mesmo um trabalho - tosco, estressante e nada inspirador, mas um trabalho em meio a um Brasil em crise e condenado a seguir nela até sabe lá quando. Independência crescendo, passo a passo. 

Com tanta felicidade, também cabe dizer - e isso em si também ser uma possível explicação - que não havia necessidade de ficar falando sobre isso e a maneira em que me inspira o tempo todo. É repetitivo. E às vezes, irrita quem quer ser feliz mas se intimida frente a uma pseudo felicidade eterna e ininterrupta. É claro que há momentos de problemas, mas é difícil expressá-los adequadamente quando se reconhece que o saldo positivo é melhor. E se tem algo que eu detesto é soar repetitivo. 

Mas o motivo maior, e já salientado aqui, é provavelmente o amadurecimento. Os problemas que eventualmente aparecem são melhor avaliados pelo olhar de uma pessoa razoavelmente calejada da vida. Igualmente, é mais fácil reconhecer a verdadeira dimensão da realização encontrada. É extremamente tóxico ficar procurando sempre algo a melhorar quando você sabe que está vivendo algo bom e deveria desfrutar disso. Não que seja desculpa pra se acomodar. Mas o desejo de melhoria não pode te tirar da felicidade conquistada.

Então é isso, eu tenho desfrutado. Muito. 
Não tenho sentido necessidade de escrever. Não tenho me forçado a refletir pra além do que já me passa na cabeça, porque talvez eu finalmente tenha captado minhas próprias mensagens, escritas ao longo do tempo nas entrelinhas da minha história errante. 
E quando você se entende, você se entende

Talvez o sinal derradeiro seja que eu não me comovo mais pela sombra da imaginação tentadora dos multiversos. Leia-se: eu não fico mais pensando esperançoso no "e se isso aqui tivesse sido assim" ou "e se naquele dia eu tivesse  feito aquilo". Constantemente eu imaginava essas situações, imaginando se minha vida estaria melhor. 
Hoje, eu até imagino. Mas estou absolutamente convencido de que não, os futuros alternativos não me interessam muito. Entendi a mim mesmo de tal forma que sei que não importa se eu refizesse uma escolha ou tomasse uma outra atitude sei lá, com 15 ou 18 anos em alguns contextos específicos. E não importa mesmo que eu tivesse a maturidade que tenho hoje. 
Pra começo de conversa, se o roteiro não tivesse sido exatamente o que eu segui, eu não estaria agora como estou. Necessariamente. Em segundo lugar, eu amo a situação em que me encontro. E o mais importante: mesmo que a minha mente fosse a dos meus 25 anos, é provável que eu tomasse decisões que vão completamente no oposto do que meu eu dos 15 e 18 fariam com suas segundas chances. Aqueles "e se" imaginados pelo meu espírito no passado só alimentam incertezas que, vistas sob o olhar do meu presente, se provam fúteis e extremamente mal fundamentadas. 
Por mais tentador que seja o futuro alternativo. Eu acho que ia precisar de um comprovante escrito por entidades cósmicas dizendo que eu viveria de música, podre de rico, mas com a mesma maturidade emocional, mesmo relacionamento, mesmo aprendizagem, mesma relação familiar, mesmos amigos. Só assim eu consideraria um futuro alternativo. 

Não é que eu não veja que posso melhorar isso ou aquilo. Mas eu cansei de me culpar por não viver coisas que hoje eu sei que não eram devidas ou corretas em dado tempo. Eu tenho feito às vezes até mais do que posso, e tenho sido compensado por isso. Só era meio leso pra entender. 

Mas esse não é um post sobre gratidão forçada. Esse é um post sobre admitir que até o drama em si era necessário. No sentido de que foi apenas pra eu entender depois que não era. A aprendizagem é um processo árduo. Ao menos pros cabeças duras como eu, é. 
Eu não faço mais os mesmos melodramas, eu me entendo muito mais como pessoa e passei a me respeitar mais, me cuidar na medida do possível. Recebo amor tanto quanto dou. E passei a viver mais pé no chão, cultivando o que posso. 

Por isso, escrever tem sido difícil. Acho que nos acostumamos, todos, com manchetes apocalípticas (mais e mais hoje em dia). E paradoxalmente, respondemos com nossos pedaços de filosofia barata, banhados em otimismo superficial e reluzente de legendas do Instagram; fingindo na cara dura que os males que consumimos não estão por aí e que são facilmente solucionáveis. Eu não sou esse cara, eu tento não ser ao menos. Seria extremamente insultante ficar batendo palmas pra mim mesmo e minha felicidade todo santo dia, ao invés de cuidar bem disso e ir aproveitando, consciente da ciranda diabólica que o mundo se tornou e preparado pra me defender disso. 

Então eu nem sei, de fato, se esse é ou será o último texto que posto aqui. Mas senti que era necessário deixar uma outra carta de alforria, perdoando o que eu pudesse perdoar de mim e lembrando o imperdoável pra não fazer merda de novo. Que fique aqui registrado que eu me deixei livre pra viver o meu presente, ainda que o registro seja tardio frente o tanto que tenho vivido.  
Guardo pra mim o carinho dos que me acompanham, fico atento aos que me querem e tentam fazer mal. 

Um abraço para os bons futuros que eventualmente eu construa. Desejo a você que lê que se liberte dos seus "e se"; ou que pelo menos dê risada de se pegar imaginando. 

PS: Tem que ter, é uma carta. Você gosta de manchete apocalíptica e veio ler quando viu "O fim".
PS2: Até a vista. Ou na crise dos 27, pra evitar entrar no Clube. 

domingo, 1 de abril de 2018

Foi a raiva que me trouxe até aqui

"Ai, que coisa negativa!"
"Ai, não gosto dessas vibes, quero sossego pra mim!"
"Sou uma pessoa superior, não sou igual esses lixos odiosos.."
E etc, etc, etc...

Se essa foi a sua reação ao meu título, ou parecida, CAI FORA. Chispa, leve toda a sua superioridade emocional e seu espírito de luz pra longe de mim. Afinal, eu devo ser um desses neandertais primitivos que você e sua bolha social desprezam tanto. Tu não tá perdendo nada, claro, já possui todo o conhecimento necessário pra sua pequena, infinitesimal e absolutamente desprezível vidinha de merda. 

Pronto, sem mais pós-modernos e pseudo gurus iluminados lendo. Vamos lá. 
Esse título está aqui cumprindo 2 funções. Mais que espantar gente retardada, a primeira delas é precisamente justificar porque estou escrevendo nesse momento (se não me engano, a primeira vez no ano). Raiva, e desse povo em específico. Já entro nos porquês.
A segunda eu vou desenrolando também ao longo. 

As pessoas parecem ter um complexo de assumir suas emoções negativas. Ao menos, aquelas que dão mais na cara. A raiva, o ódio, o sentimento de frustrar-se com algo ou alguém e a necessidade de saciar-se com uma volta por cima disso; essa sensação é renegada e abolida pelas pessoas. Em especial, a geração lacradora, parece que todo mundo vive o Geraldo Vandré.  
Todos pregam a ideia de sempre perdoar, ignorar, não "atrair cargas negativas". 
Devemos então, ser sacos de pancada para o mundo e qualquer mentecapto mal intencionado que nos aparece? "Não desejar o mal" a todos que o plantam?
Pode me chamar de pessoa ruim então, se quiser. Eu não engulo. Vou além disso, atesto pelo sangue que tenho nas veias:

A raiva é um dos sentimentos mais verdadeiramente humanos e poderosos que existem. Um ser humano que não sente raiva não possui identidade nem apego a nada. 

Eu quero que tu leia isso, pense a respeito. Se entendeu, não precisa continuar. 
Agora você que ainda discorda, acompanha:

Tu gosta de alguma coisa. Ela acaba, dá ruim, é tirada de você. 
Você deseja algo profundamente. Não consegue, por mais que tente. 
Você perde alguém querido. 
As pessoas não te escutam, não te dão chance nem te levam em consideração.

Enfim, eu podia fazer uma lista enorme. Se você não sente raiva em cenários assim, seja de alguém ou algo ou apenas das coisas terem acontecido da maneira que aconteceram, você não é um ser humano típico. Você é um eremita. Um monge tibetano. Sacou?
Apenas pessoas que NÃO POSSUEM APEGO a qualquer coisa material ou imaterial que exista em seu redor são capazes de não sentir raiva. A falta de raiva não é sinônimo de paz exatamente, mas sinônimo de desapego em relação ao resto, serenidade. Isolamento, que se bem trabalhado, leva a paz. É o que o monge faz. Monges não tem paixão - do sentido literal, do envolvimento emocional com algo - por nada.
Mas se você gosta de algo e perde, e não sente raiva, você provavelmente não era tão apegado assim àquela coisa...
Tô mentindo? Pense num relacionamento: De repente, acaba. E você tá lá, de boas. Você pode até sentir raiva da pessoa por coisas que ela fez no relacionamento, mas se não sente raiva que acabou, então é porque assim você queria. 
Se uma pessoa te faz mal, você sente raiva. Você QUER que essa pessoa pague por isso de alguma forma, mesmo que seja um processo pacífico de aprendizado. Mas você QUER isso. Essa é a sensação natural. Isso é o ser humano. 

"Ah mas devemos ser mais evoluídos, ter fé, não causar o mal" - não to dizendo que é pra sair tramando vingança de novela mexicana não. Estou dizendo pra pararmos de fingir santidade; os santos - se existem - estão num nível fora do humano. Você é humano. Aja como tal. 
Se realmente se deseja evoluir, tem que primeiro reconhecer isso. Sentimos raiva e ódio. Sentimos isso porque temos paixão. Paixão por inúmeras coisas: estar aqui, ter pessoas queridas, fazer milhares de coisas que amamos. Temos paixão pelos nossos sonhos. Tudo que nos define. E sempre que nos frustramos com algo que de alguma forma nos define, sentimos raiva. 
O segundo passo é o que você faz com isso.

A raiva que se transforma em vingança - com o perdão de não imitar o Seu Madruga - em geral é autodestrutiva sim. Torna-se uma obsessão muitas vezes, insaciável.  
Mas vamos ser sinceros que vocês sempre querem lacrar e mostrar-se superiores a fascistas ao invés de sair na porrada e apagar esses vermes, né? A mania de ser um "ser de luz" é realmente podre. Existem casos em que sim, se responde ódio com ódio SIM. Pelo bem na humanidade, parem de hesitar nas respostas a fascistas. Parem de esperar o bem e responder com perdão para gente que mesmo que o mundo tivesse grana pra todo mundo ser rico ainda assim tentaria te matar. E assumam que se eles se foderem, daremos risadas. Eu vou gargalhar, muito. 

Mas voltando..

Sentir raiva de alguma coisa é o gatilho essencial pra mudá-la. Não importa quantas informações você tenha a respeito sobre que te encorajem a fazer isso, você só se mexe quando se incomoda. 
E só se incomoda, quem tem raiva de alguma merda. 
Mesmo que seja de si mesmo. Frustrar-se consigo é um passo necessário pra reconhecer os pontos que se espera melhorar e lutar por isso. 
É óbvio que nem tudo merece frustração. É óbvio que há coisas aonde a frustração não se torna força pra mudar, mas para pelo menos resistir. Isso é parte do processo de viver e amadurecer. Mas o gatilho tá lá. 

Falo com a cara dura de quem vem muitas vezes aqui justamente por isso: porque senti raiva. De tantas e tantas coisas. Botar essa energia pra fora é tão bom quanto receber boas noticias e conquistar vitórias importantes. Porque se não, ou você fica surtado acumulando ódio até explodir, ou fica alienado do mundo, sendo esses pseudo-gurus que não descem do palanque. 

"Ai, você assusta" - ÓTIMO. Prefiro botar medo sendo sincero e vivendo como um ser humano normal, do que explodindo do nada ou fazendo todo mundo se sentir inferior por ter um frágil ego carente de afirmação como um ser evoluído. 

Só quem tem paixão pela vida sente raiva do que ela pode trazer, e só quem se frustra de verdade sabe valorizar os momentos de bonança. A vida imita o futebol: menos modinhas tirando selfie, mais geraldinos pilhados, por favor. 










sábado, 7 de outubro de 2017

A infalível lei de Pacman

Eis o cenário:
Estava eu, entediado, em uma aula eletiva - até interessante, mas daquelas que pegamos pra terminar os créditos necessários - aguardando seu fim. Essa é daquelas que presença vale ponto e o professor faz questão de passar lista sempre no fim da aula. Tá, ok até aí.
Só que neste dia, além da quantidade exorbitante de conversa durante a aula - que pesa bastante quando a sala é pequena - a rapaziada decidiu que ia dar de bucha dos colegas que ali não estavam presentes. Nada contra, quem nunca precisou faltar? O problema é que isso atrasou consideravelmente o tempo que a lista levou até chegar em mim. E quando eu digo consideravelmente, leia-se pra caralho.
Eu não sou um sujeito paciente, acho que todo mundo já sabe disso.

Finalmente saí eu, de lista assinada e revoltado, tentando entender por quê numa matéria aonde a maioria absoluta da turma tem mais de 25 anos as pessoas pareciam não ter capacidade mental de pelo menos prestar-se a assinar pros colegas que não foram DEPOIS de quem estava lá, e portanto, tinha prioridade. Eu me perguntava por quê diabos era tão difícil que gente que talvez fosse até mais velha que eu em tempo de faculdade ainda se comportava como calouros incapazes de levar qualquer coisa a sério ou pensar nas consequências de seus atos. "Essa gente vai se formar, vai ser profissional caralho. Será que é tão difícil respeitar os outros e não ficar com essa média pra favorecer amigo?"

No fim das contas, eu estava malhando um pouco além do merecido - porque é, e bastante - os ditos cujos. Mas o motivo era simples, não era daquele dia que eu vinha impaciente.
Minhas últimas semanas (talvez eu possa colocar aí desde que voltei de Maria da Fé, em Minas) têm sido bastante desgastantes. E naquele dia, eu parei pra refletir sobre isso mais a fundo.
A causa era uma só: a faculdade.

Devido à faculdade, a cada período que eu avançava, tive que me dedicar ainda mais do que já estava dedicando no anterior. Some à isso o acúmulo de projetos - porque o idiota aqui não sabe ficar parado - e aí você começa a mapear tudo que tenho ganhado de problemas e perdido de vantagens.

É por causa da faculdade que inúmeras vezes, mesmo tendo dinheiro (raro, mas rola) pra ir com meus amigos em algum lugar, falta o tempo. Sou obrigado a ficar em casa e estudar ferrenhamente, e a verdade é que isso se intensificou tanto nos últimos anos que tem uma quantidade absurda de pessoas com as quais perdi contato. Pessoas por quem eu realmente nutro e nutri afeto. Muitas eu perdi, e nem sei se agora vai fazer diferença. Mas outras eu sinto falta. Meus principais amigos eu não consigo mais sair e ver, é raro.

A minha banda se estagnou não por minha indisponibilidade, nem do Zé. Mas a faculdade me impede de sentar pra ensaiar, compor e caçar novos integrantes que possam nos fazer voltar à ativa. Em pensar que há quem goste, que queira ouvir. Surpreendentemente, eu sou cobrado por isso com alguma frequência. Mas não o suficiente pra eu conseguir atender.
Piada a minha, eu não consigo me dedicar pra retomar isso. Quero, não consigo.

Honestamente, eu sequer consigo levar minha namorada no cinema às vezes. Sorte a nossa podermos conviver próximos, manter sempre o contato e o carinho. Mas eu queria poder mimá-la mais. E adivinha: a faculdade me tira esse tempo, e por vezes o dinheiro também!

Tudo isso se junta com a eminente aposentadoria da minha mãe nos próximos anos (que não serão muitos). Isso significa, dentre outras coisas, que eu necessito arranjar sustento pós formatura, e encaminhar isso não tá sendo fácil - porque NEM NISSO a faculdade colabora.

E eu tô muito perto da formatura. Simplesmente, não tenho mais saco pro ambiente que é o lugar. Pro clima de maternal que os professores propõem, em sua grande maioria, nas aulas. Ficou enjoativo, é algo que na maioria das vezes eu faço arrastado. Cheguei a questionar se estava no caminho certo, típica dúvida que não é de me bater.

Não é que eu esteja aqui dizendo que vou largar tudo. Mas a pressão da vida adulta resolveu se fazer presente de forma fixa, e eu não tive nessas semanas um horizonte firme. Isso pesou, senti pesar bastante. Senti que poderia estar desperdiçando tempo em algumas situações, e que no futuro não o recuperaria. Eu não sabia bem dizer o que estava pra acontecer, sendo que eu tenho prazo pra que aconteça se eu quiser tornar reais metade dos meus planos..
Mas eu tenho um problema.
Eu sou impaciente.

Eu sou tão impaciente que eu não consigo entrar nessa de ficar numa bad remoendo as dores. No mesmo dia em que todos esses pensamentos se acumularam, tirei pra conversar com algumas pessoas. Soltar todas as coisas que me vieram à cabeça, e também reparar o que eu podia.

Sim, reparar. Eu sei que não estou cometendo sacrifícios à toa, mas eu não posso não quero e não vou abrir mão das coisas que gosto. E, sério, se você não quer perder aquilo que dá valor, faça-se presente. Ao menos na hora que puder, pois será a hora certa.

Nesse mesmo dia, minha impaciência me colocou a pensar sobre como seriam os próximos dias. Se eu ia aguentar a rotina, se não ia surtar. Apesar do clima, eu tentei manter a frieza.
Nessas horas sempre ajuda.

Talvez não tenha remédio melhor que olhar pra trás, pensar no que já foi. Pois, justamente, já foi.
Não importa o tamanho, a complexidade. Foi. E se foi, é porque se trabalhou pra que fosse. Todos nós enfrentamos uma infinidade de problemas no passado, e em algum momento os superamos. Isso prova de forma muito clara que não existe uma restrição infinita à nossa capacidade de continuar rompendo barreiras. Em algum momento, a realidade nos dará a oportunidade de mudar as coisas. É necessário olhar pra trás, pensar que se já foi tanto, mais um tanto não é nada.
Dá medo pra caralho, assusta, mas porra, uma hora vai né. O medo tá aí sempre, fazer o quê, como fantasmas famintos caçando.

E aí se explica o título.

Percebi essa coincidência no mesmo dia em que a bad bateu, e de repente vi que fazia muito sentido:
A vida adulta é exatamente igual a Pacman.
Tipo, sério.
A gente corre igual um condenado, quase sem parar. Precisamos de pontos, sempre - leia "pontos" como qualquer porra que seja sua meta, momentânea ou de vida - e somos perseguidos de forma contínua por nossos fantasmas:a pressão pelo sucesso, as contas pra pagar, as pessoas negativas ao redor, etc.
Repete-se aqui: de forma contínua. Já jogou Pacman alguma vez? Se você já jogou, queira relembrar o que rola quando você fica parado mais de 5 segundos. Se não, deixa eu dizer:
VOCÊ SE FODE, OS FANTASMAS TE CERCAM.
Simples assim. Será que deu pra pegar a analogia?

Não é que você não possa parar um instantinho pra recuperar o fôlego e tomar a melhor decisão. Não é que você não possa ter medo de todos os problemas que surgiram e sentir-se mal por isso.
Mas você não pode simplesmente ficar parado esperando a solução. Ela pode até aparecer sozinha, mas só vai dar as caras se você se mexer. Você PRECISA manter-se em movimento, a todo o custo.
Com a experiência, será possível aplicar vários perdidos nos fantasmas pra ganhar tempo pra quando precisar parar, e também será possível achar aqueles bônus que vão te permitir comer até mesmo essas desgraças.
Mas lembre-se: novos fantasmas virão. Então, continue correndo.

Apesar do medo, da dificuldade, do inferno que for. Ponha-se em movimento, mesmo que seja pra chorar em movimento. Mas anda, que a vida anda, os fantasmas correm e só dá pra comê-los se você caminhar até o bônus.

Curiosamente, esta semana participei de algumas experiências muito legais na faculdade, pude retomar assunto com alguns amigos cuja presença me faz falta, peguei um merecido cinema com a namorada ontem. Tem jeito não, é isso: lei de Pacman.
Só preciso parar pra correr LITERALMENTE, porque a faculdade me tirou o tempo de exercitar pra perder a barriga de cerveja.








terça-feira, 12 de setembro de 2017

Sobre fé

Pela primeira vez na vida, tive a oportunidade de me afastar do estado do Rio de Janeiro.
Mais do que isso, de me embrenhar pelo interior. 
Fui parar em Minas Gerais, mais especificamente Maria da Fé, graças à duas amigas muito especiais. 

Eu não vou entrar muito em detalhes sobre a viagem, mas na verdade, queria destacar alguns efeitos que se colocaram sobre mim durante esse feriado e desde que voltei ao Rio.

É incrível e notável a diferença entre o interior e as grandes cidades. O ritmo mais tranquilo, o clima mais íntimo entre as pessoas. Aliás, íntimo aqui já é, mas de forma abusiva e violenta. Em Maria da Fé, as pessoas se conhecem e confiam - em geral - numas nas outras, permitindo que seus carros, casas e todo o resto fiquem abertos, sem sequer trancar os cachorros em casa.
Até os cachorros são simpáticos, e fazem festa pra todo mundo que passe. 

O ar é infinitamente mais puro, e tudo é bem mais perto do que você poderia imaginar. 
Exceto o Alambique, que é longe pra caralho. Mas valeu a lendária cachaça.

Foi como recuperar aquela paz de espírito que você persegue nos sonhos de uma vida melhor, sabe. Esquecer as preocupações, reencontrar as energias. 
Olhar pro horizonte e ver aqueles vales bonitos - ao menos os que ainda tem mata - e ficar pensando o quanto a gente perde tempo com besteira na vida. O quanto nos desperdiçamos com coisas inúteis e o quanto banalizaram coisas inaceitáveis no nosso cotidiano..
Sabe, NÃO É NORMAL eu sempre me preocupar com assalto e hora pra voltar, nem sair de casa 3 horas antes do necessário dependendo do lugar que pretendo ir. Não é normal eu ter que trancafiar tudo às sete chaves porque senão perco até a roupa. 

Sei que, depois de Maria da Fé, passei a ter fé que poderia ter mais qualidade de vida. Espero conseguir melhorar as coisas que me cabem aqui no Rio, e na medida que eu chegue no meu limite, volto pra lá recarregar o espírito.