Segura firme, cruza. Passa um por dentro.
Puxa.
Faz o laço, puxa.
De novo. Dá ainda?
Sim, dá. De novo.
Meio que involuntariamente, fui amarrando os meus sapatos. Minto, eu plantei razões para a saída. Objetivos grandes ou pontuais, coletivos ou meus, eu havia plantado um monte deles.
E agora estou aqui, amarrando os sapatos. Cheio de nós entre os dedos.
Nó sobre nó. Ironicamente, o objetivo aqui não é manter o cadarço devidamente contido. Justo o oposto, quero que ele desate na estrada. Nó por nó.
De fato tem sido algo bem cansativo. Na teoria, era pra eu estar descansando e curtindo as glórias conquistadas - que pra toda uma vida, são recentes - com tanto suor. Mas é engraçado como simplesmente não dá pra ficar parado.
Estou tentando compensar. Dar-me o ócio merecido em alguns momentos, nem que seja somente ao sentar num banco qualquer em uma praça. Pensando em tudo, mas sem pressa de conclusão. E se possível, tendo a alegria de constatar que um nó desatou. "Menos um" - eu pensarei.
E aí, quando eu poderia continuar ali fitando o horizonte sem hora pra voltar, eu faço o seguinte:
Seguro firme e cruzo. Enfio um por dentro. Puxo. Faço o laço. Puxo de novo.
Outro nó. Outro bendito nó.
E se der, faço mais outras vezes.
É que eu não sei viver sem motivo. Eu não sei limitar o que posso fazer.
Então quando você me pegar cansado, saiba que é só o tempo de eu recarregar pra caminhada.
É que pra ter nós, precisei de muitos nós. E pra manter, vou precisar de outros tantos, como já preciso só pra mim.
Mas esses você me ajude a desatar.
De resto, quando eu puder me dizer enfim, pleno, apenas vou puxar firme no centro.
Desatar.
Recado de Beto Guedes
Há 3 anos