Caminham entre nós, ou melhor dizendo, flutuam.
Flutuam entre nós as pessoas bolha, alheias ao mundo e a todos a seu redor.
Imersas em seus mundinhos coloridos, feitos por si mesmas com o único propósito de diverti-las, entretê-las.
Mundinhos milimetricamente arquitetados em suas mentiras sólidas de sabão.
São verdadeiros campados, recheados de castelos de virtudes que clamam ter, aonde colecionam histórias de glórias que nunca lhes coube, e apagam dos registros seus fracassos solenes e inegáveis, bem como suas consequências.
Só que é tudo de sabão. Translúcido, sem conteúdo, frágil e escorregadio. Não se precisa um olhar atento para ver a bolha de uma pessoa. Mas ela, lá dentro, custa a enxergar. E tende a permanecer imersa na luz deste arco íris que se forma única e exclusivamente de seus reflexos, pois lembremos que a pessoa bolha sempre acredita que é especial, que sua luz emana perfeição e impedirá que o mundo lhe traga a agulha - portadora da verdade - tão temida e não merecida - apenas em sua visão.
Não que todo mundo não tenha seu momento bolha, mas existe uma diferença essencial entre uma pessoa bolha e uma pessoa normal: a pessoa bolha realmente acredita no mundo que ela constrói.
Quando estamos mal ou não temos maturidade para encarar a vida, construímos nossas bolhas. Somos assim, nos isolamos em pensamentos vãos e unilaterais, esperando que a vida comprove a veracidade de nossas concepções.
Mas em algum momento a ficha cai. Cedo ou tarde, nós aprendemos que não existe verdade absoluta. Aprendemos que tanto erros quanto acertos possuem consequências. Aprendemos a respeitar a diferença, a nos deixar ser alvo de interação e querer interagir com tais diferenças. Quando você cresce como pessoa, você mesmo estoura a bolha que possa ter construído.
Mas uma pessoa bolha? Haha, não é bem assim.
Pessoas bolha vivem mentiras por definição. E acreditam de verdade em todas as suas abstrações sobre o mundo, o tempo todo. Não estou dizendo sobre ideais, ou desejos - apesar de que possamos incluir isto aqui sim - mas sobre percepções reais. Pessoas bolha podem nascer assim ou serem criadas para ser assim, e honestamente, tanto faz.
O que importa registrar é que a existência das pessoas bolha é mais que triste, é um problema. E um problema sério.
A existência das pessoas bolha evidencia como a nossa sociedade está doente. Pessoas preferem se isolar em seus mundinhos de conto de fadas aonde são protagonistas perfeitas da novela da Globo (sem erros, sem defeitos, sem culpa) a terem que encarar o peso da realidade, porque ela dói.
A existência das pessoas bolha é um FARDO para as pessoas próximas à todas elas, pois estas gastarão seu tempo e energia tentando trazer estas pessoas para a realidade ao mesmo tempo em que têm que lidar com todos os problemas causados pelo comportamento bolha, que gera curtos instantâneos com o emaranhado de fios sociais.
E a existência de pessoas bolha é um perigo para a sociedade como um todo, uma vez que o comportamento bolha - como já mencionado - leva a uma sucessão de causos e acontecimentos que invariavelmente trarão danos e prejuízos para outrem, exceto para as bolhas. Estas circularão pelo ambiente de forma leve e cínica, até serem carregadas pelo vento e irem atazanar a vida de outros, ensaboando o caminho por aonde passam.
Talvez o ponto mais problemático seja que pessoas bolha não são capazes de se reconhecer como tais. Mesmo com muita agulha, martelada, raquetada, elas continuam fazendo a bolha aumentar. Mesmo com carinho, compreensão, elas vão preferir aumentar a bolha. "Tá, tá bom", "Ah, sei lá" e tantas outras expressões serão repetidas, desviando da agulha e indo pro detergente fabricar mais.
Ah, sério, ter momento de bolha todo mundo teve, mas admitamos: isso é um problema sim. Pessoas bolha são um problema dos mais graves nos dias de hoje.
E eu já tô de saco cheio delas. Afiando a agulha pra próxima que me inventar de vir ensaboar a vida em qualquer sentido que seja.
E você fique de olho. Amigos, parentes, amores. Olhe atentamente.
As pessoas bolha flutuam entre nós.
Recado de Beto Guedes
Há 3 anos