Hey, você aí

Não, não quero seu dinheiro.
Estava mais pra dizer 'Hey Jude', ou algo assim.
Bom, este blog é sobre mim. Não apenas eu, mas o que penso, sinto, etc. Já foi meio invasivo, já foi vazio. E no fundo ainda é legal, pra mim. Meu cantinho de desabafo e filosofia, se assim posso dizer.
Eu sou um livro aberto. O que quiser saber, pode achar aqui. E o que não conseguir, é porque ainda vamos nos esbarrar por esta vida irônica.

The Beatles

The Beatles
Abbey Road

quinta-feira, 17 de julho de 2014

Partes à parte

Dilema aqui, dilema acolá. 
Difícil pensar momentos em que não nos encontramos divididos em escolhas. Ideias ou ideais, vontades e obrigações, etc etc etc. 

Quanto mais hesitamos em fazer de fato uma opção, mais parecemos sentir o impacto dessas dúvidas. Talvez isso seja um pouco daquela conexão mente - corpo que citam por aí. Quando temos aqueles problemas (até em nível subconsciente) que começam a afetar nosso corpo de maneira física mesmo. 

Este texto mesmo, é uma guerra física e mental. A cada linha, penso se devo ou não escrever a próxima, e posteriormente me questiono se devo ou não apagá-la. A dúvida, em ambos os momentos, é acentuada pelo movimento errôneo dos dedos que se direcionam com vida própria em outras palavras ou mesmo em nenhuma. 

Somos partes de nós mesmos, o tempo todo. 
Sou pé pra querer correr, sou peso pra sentar, sou mão para escrever e pra tocar. Sou voz pra falar, gritar, cantar, calar. Sou boca pra comer, pra amar. Sou cabeça pra pensar, solucionar e principalmente, complicar. 

Somos as dores das nossas dúvidas em cada parte nossa que é a solução.
Isole a conexão, e seremos apenas dúvida ou corpos autômatos sem emoção. Enfim, reflexão pós-janta. 

domingo, 13 de julho de 2014

Carma

Acima da opinião, acima do raciocínio, acima do previsível. 
Este é o Carma, que não pede passagem pra ser apresentado. Muito menos respeita as vontades alheias.

Fato certo: o Carma existe, e pega a todos. 
Não tem hora nem lugar exato, mas sempre tem razão. E a razão é simplesmente o fato de que não existe só bem e só mal em uma vida. Ou em todas as vidas, que seja. 

Nossos caminhos são linhas constantemente desviadas pela forma com que interagimos com os acasos que nos são fornecidos. O entrelaçar destes caminhos costuma ser o determinante dos acasos, aquilo que lança as oportunidades para fazer escolhas e traçar assim um caminho diferente. Caminho este que não só pertence a cada um, mas a todos que foram alvos do entrelaçamento: um mesmo acaso e uma determinada escolha geram diferentes vivências e resultados para os envolvidos de forma individual num caminho que lhes é conjunto até o próximo acaso e consequentemente próxima escolha que rompa ou solidifique essa conexão.
Dito isso, é perfeitamente possível que alguém ande em círculos a vida toda; simplesmente por tomar a mesma escolha direcional nos mesmos acasos. 

A questão que se levanta é: por quê surgiram os mesmos acasos? De modo geral, não existe uma explicação 100% racional e convincente que possa dizer com precisão o motivo pelo qual tamanha repetição possa ser possível por diversos momentos em vida ou mesmo a vida inteira. Trato agora a questão em base do que acredito pelo que eu mesmo aprendi. 
Mas entendam, não que eu queira soar autoritário, o fato é que o que digo me parece tão certo que dificilmente a concordância ou não alheia altera a realidade do mesmo. Não é por presunção minha, é simplesmente como o Carma funciona.

Quando você faz uma escolha inadequada que prejudica a você ou outras pessoas, um acaso compensatório é criado no universo pra balancear a ordem e dar uma nova chance de acerto. Basicamente, se você erra consigo mesmo ou se sacrifica pelos outros, seu prejuízo pode vir a ser compensado mais a frente, se souber aproveitar a chance dada. Mas se você tira vantagem do erro alheio ou age de maneira vil com os que te cercam, fatalmente a sua queda vai chegar se você não abrir o olho. 
Até aí, percebam que é tudo um jogo de possibilidades: com certa carga de experiência e um olhar mais atento, é possível acertar o próprio caminho sem prejudicar os outros sem ter que passar por sofrimento algum e também ser um verdadeiro vilão de telenovela sem que um castigo lhe alcance. Mas, embora a experiência possa ser facilmente adquirida após alguns erros e acertos ainda em juventude, o olhar atento não é algo que todos possuem naturalmente. Pior, este olhar atento é algo que deve estar sempre se adaptando: diversas situações que parecem únicas podem ser na verdade apenas variações de um mesmo padrão já vivenciado, padrão este ao qual já se tem uma resposta (certa ou errada) em nossas mentes. Diante de tal fato, um olhar que não se adapta é incapaz de aplicar os conceitos aprendidos com as escolhas anteriores em situações similares, o que aumenta o risco de escolhas ruins que poderiam ser evitadas. 

Ou seja, de um modo geral, o Carma pega 99,99% de todas as pessoas do mundo em algum momento. Ninguém consegue, a vida toda, ter um olhar tão perspicaz a ponto de sempre identificar um acaso e suas possíveis consequências e como tirar bom proveito dele para si ou para os outros. Fatalmente, ao invés de podemos optar pela compensação dos atos anteriores, somos forçados a abraçá-la como destino certo: quem sofre ainda pode vir a sorrir, quem sorri hoje ainda vai sofrer. Nem só bem, nem só mal. Uma dicotomia constante e necessária.

Pode ser de qualquer forma. Um filho que se desentende com os pais pode se tornar um pai que discute demais com os filhos. Um cara infiel pode se tornar o corno mais sacaneado da praça. E claro, eu posso reencontrar depois de anos uma garota a quem neguei a chance muito mais linda, gostosa, inteligente e tudo a ver comigo, sendo que ela tem namorado.
Normal.

O que é meu tá guardado. O que é seu tá guardado. Todo mundo. O Carma que sabe.



quinta-feira, 10 de julho de 2014

Mais um

Era só mais um.

Não tinha se tornado um artista famoso. Também não era rico.
Não era um gênio realizador de grandes descobertas. Nem um revolucionário que lidera os grandes movimentos libertadores e promotores de mudanças. 
Ele não tinha realizado todos seus objetivos de vida. Talvez nem sequer tivesse descoberto a verdadeira extensão de seus sonhos.
Mas havia realizado alguma coisa até, de suas resoluções. Na medida do possível. Era jovem demais, isso se podia dizer. E talvez, em função disso, imaginassem que ele não estava se queixando na hora fatal por ainda não ter alcançado a plenitude de sua determinação.

Não teve manchete de jornal, mas houve quem sentisse como a morte de um ídolo. Até porque pegou a todos de surpresa: o diagnóstico terminal de uma doença rara, que ele fez questão de ocultar da maioria. Só a então namorada sabia. E fora ela a incumbida de mostrar o curto bilhete aos que o amado designara:

"Se eu contasse, vocês surtariam mais do que eu.
Se eu contasse, se preocupariam demais em me agradar e deixariam de ser sinceros. 
Se eu contasse, iam sofrer de forma adiantada.
Se eu contasse, alguns seriam capazes de se afastar pra tentar se acostumarem e assim me fariam sofrer mais.
Se eu contasse, se esgoelariam em tentar achar formas de me salvar. Formas que estavam além do alcance de todos nós juntos.
Se eu contasse, não viveria os nossos últimos momentos da maneira que queria: exatamente como eu tinha vivido até então. 
Não vou ficar aqui tentando explicar ou procurar razão pro que aconteceu. 
Sigam bem, tudo que peço. E amem muito. Amo vocês. Tô de olho, viu?
Fui.

PS: Se existirem espíritos que puxam pé, aparecem em espelhos e coisas do tipo, talvez eu apronte uma dessas com os mais assustados. Desculpem de forma adiantada, mas é que eu não resisto."


A família não conseguia sequer imaginar qualquer coisa como essa ou de qualquer outra natureza. No primeiro momento e até aquela hora derradeira, eram a encarnação perfeita de dor. Fora o golpe mais covarde e mais forte que receberiam em vida: ele era o orgulho, aquele que já tinha conquistado muito mais que todos os antecessores e que ainda prometia vôos maiores. Ele era o laço de conexão das partes separadas, e o exemplo que todos citavam e a que recorriam. A dor - devastadora - só começou a diminuir quando a família notou ser minoria no enterro.

Dezenas. Eram dezenas de amigos. Todos, tão arrasados quanto a família. Isso os confortou. Não esperavam que ele tivesse sido tão popular. Muito menos que causaria tamanha comoção sincera. 
Os amigos variavam reações, embora também tomados pela dor. Os colegas mais recentes (pois é claro que ele teria feito novos até mesmo na última semana de vida) eram os mais abalados. Ironicamente, já que não houvera tempo para aprofundar os laços. Talvez fosse esse exatamente o motivo. 
Os bons amigos e amigas relembravam, entre si ou em suas mentes de forma isolada, os bons momentos. A forma com que haviam o conhecido. As piadas e histórias que ele contava. Alguns recebiam uma grata surpresa: certos presentes eram testemunhas e personagens dessas histórias. "E eu ainda duvidei." - pensava o mais cético. E estas personagens, por sua vez, vinham dar seu testemunho particular sobre coisas que somente elas haviam vivenciado com o jovem moribundo. Uns choravam ao contar os causos, outros sorriam com plena sinceridade. Estavam gratos pelo encontro em momentos anteriores. 
Havia algo curioso tomando lugar no enterro: muitas mulheres cabisbaixas, incapazes de proferir uma palavra. Algumas era completas desconhecidas. Outras, amigas próximas e sempre presentes com o sujeito em vida. Também havia as que foram parte de seu passado. Os mais perspicazes podiam decifrar: eram aquelas que o amaram ou chegaram a amar mesmo secretamente, golpeadas pelo baque de sentir as esperanças de um futuro retorno ou começo se esvaírem.
Os mais próximos, seus maiores companheiros, já não mais choravam. Tentavam refletir o que aquilo significava. Não o acontecimento em si, mas para eles. Se dividiam entre os inconformados, os nocauteados e os poucos otimistas.
Os inconformados arriscavam um palpite:
"Ele deve estar mais chateado por ter sido agora do que nós."
"Como é possível?" - respondiam de volta os nocauteados. 
"Vocês acham mesmo que ele abriria mão da chance de ainda ser tudo que dizia assim? É capaz dele ter partido revoltado."

É quando o melhor amigo, o melhor exemplo dos otimistas, fecha as especulações fúnebres:
"Tenho certeza que ele foi mais tranquilo e descansado do que o mais realizado ser humano."
"Mas ele foi tão jovem! Tinha tanta coisa pra fazer entre nós...E como todos disseram, ele queria muito dar prosseguimento nas coisas que fazia. E a forma com que aconteceu.."
"Leiam a lápide." - sentenciou o eterno irmão.

Só então entenderam a verdadeira razão do que estava escrito:

"Fui arrumar a casa. Por favor, arranjem razões pra demorar."

Ficaram todos ali horas a fio. O pai mandara enterrá-lo com uma bandeira do Botafogo, e os amigos lhe trouxeram todos os álbuns de sua banda favorita. Levaram mais 2 ou 3 horas até que o grosso dos presentes caminhasse de volta à suas vidas.
A namorada sentou-se ao lado da lápide, ainda entorpecida. O coveiro pediu-lhe que se retirasse, pra fechar o cemitério. 
"Vou demorar amor. Pra ver se é pra ser. E se for, estarei com você."

Mais um dia, só mais um que morreu.