Hey, você aí

Não, não quero seu dinheiro.
Estava mais pra dizer 'Hey Jude', ou algo assim.
Bom, este blog é sobre mim. Não apenas eu, mas o que penso, sinto, etc. Já foi meio invasivo, já foi vazio. E no fundo ainda é legal, pra mim. Meu cantinho de desabafo e filosofia, se assim posso dizer.
Eu sou um livro aberto. O que quiser saber, pode achar aqui. E o que não conseguir, é porque ainda vamos nos esbarrar por esta vida irônica.

The Beatles

The Beatles
Abbey Road

segunda-feira, 27 de março de 2017

Temos que ser mais chatos

Eu não sei você, mas eu gosto de pessoas que são chatas.
Chatas não pentelhas, por assim dizer. Não aquele chato que é inconveniente, retardado ou babaca. Não é aquele famoso pain in the ass.  É outra coisa. 

Como eu vou explicar sucintamente?
Concebamos o chato como o persistente. O cara que não gosta de receber "não" - PELO AMOR DE DEUS, NÃO VÃO EXTRAPOLAR ISSO PRA DIZER QUE LEGITIMO ASSÉDIO ESTUPRO E AFINS, NÃO É ISSO; estou falando sobre gente que não desiste fácil, não sobre retardados, tarados e machistas - e que vai cavando o caminho dele até dar de cara com seu objetivo, se assim ele deseja. O obstinado, mas não o ganancioso. Determinado, sem cobiça. 
Porque uma das características do chato é que ele demora demais a largar o osso, mas eventualmente ele larga: basta ver que a coisa claramente não vai ser interessante pra ele. 

O ponto é: mesmo ao desistir de algo, um sujeito que é chato logo arranja outra coisa pra encucar sua mente agitada. Porque se você conhecer um cara que é chato - nessa definição que proponho - e é burro, parabéns, fez um achado. Usualmente, pessoas chatas são inteligentes (leia-se inteligente de qualquer maneira conhecida, não necessariamente academicamente). Pessoas chatas têm algum tipo de visão diferenciada sobre o mundo ao seu redor e si mesmas. Costumam se conhecer bem e, muito por isso, saber exatamente o que querem e tomar atitudes o tanto quanto for possível para alcançar suas metas.

Quer dizer, pensa em 6 ou 7 ídolos seus: seja do mundo da arte, empresarial, político. Depois pesquisa um pouco sobre a vida pessoal dos caras. Biografia básica, que seja. 
Cara, tu vai achar muita gente chata pra caralho. Mas chata mesmo, desse jeitinho que tô falando. Alguns até insuportáveis para convívio, mas isso é outra história..
Porque além de obstinados, persistentes e perspicazes, os chatos são clichês. Os chatos sempre tem uma frase pronta, uma filosofia de vida. E até a mudam, mas nunca lhes falta uma. Talvez por isso sejam insuportáveis.

Mas que sejamos então insuportáveis. Sabem por quê? De novo, pensa no que seus ídolos chatos alcançaram na vida. Pensa no que tu quer alcançar, sei lá. Será que não ficou clara ainda a conexão entre os chatos e a eterna busca pela felicidade?
Muitos dos seus ídolos chegaram no topo de suas vidas e ainda assim continuaram buscando algo mais. Mesmo quem tinha tudo ainda queria algo mais. E observe que isso não tem muito a ver com ganância - não necessariamente, mas sim, ela pode estar presente e estará quando tratarmos de pessoas rasas e de má índole - mas apenas a vontade de ser feliz.

A felicidade não é e nunca será uma coisa estanque: ela vem e volta na vida conforme você se dá por satisfeito e esquece de continuar na busca pela mesma. Nós temos uma ilusão massivamente difundida de que ao darmos um passo pela felicidade nós já a alcançamos e por isso devemos cessar os esforços e aproveitar o momento: na luta por direitos, qualquer merreca nos remove da rua e nos sossega por 20 anos; nas relações amorosas, cada novo relacionamento mais profundo nos dá a impressão de felicidade mesmo que o relacionamento seja terrível; na vida profissional, ascender a uma colocação desejada muitas vezes nos leva a diminuir o esforço e qualidade no trabalho, tornando-nos o alvo preferencial para a próxima demissão, etc. 

Não é que não devamos tirar um tempo para curtir as nossas conquistas na vida. Conquistas de qualquer espécie e magnitude (desde que lícitas E éticas, foco nesse "E"), todas são válidas e merecem sua comemoração. Nós merecemos nos dar o descanso e curtir o momento. Nós precisamos. 
Mas não podemos sentar na crista da onda: ela quebra. A vida é efêmera e às vezes mesmo o que se quis e se conseguiu para toda uma vida pode perder o poder atrativo. Relações lindas morrem pela falta de esforço dos casais de manter a chama acesa; bandas com trabalhos promissores sumiram do mapa após sucessos meteóricos e o desleixo das músicas que se seguiram; grandes pensadores de seu tempo correm o risco de soar como velhos gagás se não se atualizarem das novas dinâmicas da sociedade que sempre muda. 

Não lembro qual dos clássicos filósofos gregos disse, mas um deles disse: O mundo é um eterno devir. Sempre em mudança. 
Por quê DIABOS então alguém se convence de maneira tão firme (como fazemos, em geral) de que tem uma hora que você pode sentar a bunda no sofá e botar o pé na mesinha?
Porra nenhuma, irmão.

Sejamos chatos. Inconformados. Nesse estado eterno de estar feliz mas nunca satisfeito, sempre pensando o que se pode fazer pra continuar feliz. 
Sejamos pessoas que estão sempre procurando ser melhores. Como pessoas, como tratamos as pessoas e como levamos a vida. 
Pelo menos até a gente depender de remédio pra ficar vivo, vale a pena pensar dessa forma. 
Sejamos um bando de chatos. 
E se alguém reclamar, vou ser ainda mais chato. 

Porque faltou dizer: Todo chato sabe que é chato. Sabe que erra, acerta, tenta. Mas o chato, por saber, pode avaliar e melhorar. Ele continua tentando.
Mas o conformado, o estático, o cara do discurso "o mundo está contra mim e eu nunca faço nada errado" está fadado a mais do que o fracasso: está fadado a se acostumar a perder, e aumentar sua inércia. 

Seja chato, o quanto precisar ser. Alcance a felicidade, curta e continue se movendo no passo dela, senão ela escapa.