Hey, você aí

Não, não quero seu dinheiro.
Estava mais pra dizer 'Hey Jude', ou algo assim.
Bom, este blog é sobre mim. Não apenas eu, mas o que penso, sinto, etc. Já foi meio invasivo, já foi vazio. E no fundo ainda é legal, pra mim. Meu cantinho de desabafo e filosofia, se assim posso dizer.
Eu sou um livro aberto. O que quiser saber, pode achar aqui. E o que não conseguir, é porque ainda vamos nos esbarrar por esta vida irônica.

The Beatles

The Beatles
Abbey Road

domingo, 1 de abril de 2018

Foi a raiva que me trouxe até aqui

"Ai, que coisa negativa!"
"Ai, não gosto dessas vibes, quero sossego pra mim!"
"Sou uma pessoa superior, não sou igual esses lixos odiosos.."
E etc, etc, etc...

Se essa foi a sua reação ao meu título, ou parecida, CAI FORA. Chispa, leve toda a sua superioridade emocional e seu espírito de luz pra longe de mim. Afinal, eu devo ser um desses neandertais primitivos que você e sua bolha social desprezam tanto. Tu não tá perdendo nada, claro, já possui todo o conhecimento necessário pra sua pequena, infinitesimal e absolutamente desprezível vidinha de merda. 

Pronto, sem mais pós-modernos e pseudo gurus iluminados lendo. Vamos lá. 
Esse título está aqui cumprindo 2 funções. Mais que espantar gente retardada, a primeira delas é precisamente justificar porque estou escrevendo nesse momento (se não me engano, a primeira vez no ano). Raiva, e desse povo em específico. Já entro nos porquês.
A segunda eu vou desenrolando também ao longo. 

As pessoas parecem ter um complexo de assumir suas emoções negativas. Ao menos, aquelas que dão mais na cara. A raiva, o ódio, o sentimento de frustrar-se com algo ou alguém e a necessidade de saciar-se com uma volta por cima disso; essa sensação é renegada e abolida pelas pessoas. Em especial, a geração lacradora, parece que todo mundo vive o Geraldo Vandré.  
Todos pregam a ideia de sempre perdoar, ignorar, não "atrair cargas negativas". 
Devemos então, ser sacos de pancada para o mundo e qualquer mentecapto mal intencionado que nos aparece? "Não desejar o mal" a todos que o plantam?
Pode me chamar de pessoa ruim então, se quiser. Eu não engulo. Vou além disso, atesto pelo sangue que tenho nas veias:

A raiva é um dos sentimentos mais verdadeiramente humanos e poderosos que existem. Um ser humano que não sente raiva não possui identidade nem apego a nada. 

Eu quero que tu leia isso, pense a respeito. Se entendeu, não precisa continuar. 
Agora você que ainda discorda, acompanha:

Tu gosta de alguma coisa. Ela acaba, dá ruim, é tirada de você. 
Você deseja algo profundamente. Não consegue, por mais que tente. 
Você perde alguém querido. 
As pessoas não te escutam, não te dão chance nem te levam em consideração.

Enfim, eu podia fazer uma lista enorme. Se você não sente raiva em cenários assim, seja de alguém ou algo ou apenas das coisas terem acontecido da maneira que aconteceram, você não é um ser humano típico. Você é um eremita. Um monge tibetano. Sacou?
Apenas pessoas que NÃO POSSUEM APEGO a qualquer coisa material ou imaterial que exista em seu redor são capazes de não sentir raiva. A falta de raiva não é sinônimo de paz exatamente, mas sinônimo de desapego em relação ao resto, serenidade. Isolamento, que se bem trabalhado, leva a paz. É o que o monge faz. Monges não tem paixão - do sentido literal, do envolvimento emocional com algo - por nada.
Mas se você gosta de algo e perde, e não sente raiva, você provavelmente não era tão apegado assim àquela coisa...
Tô mentindo? Pense num relacionamento: De repente, acaba. E você tá lá, de boas. Você pode até sentir raiva da pessoa por coisas que ela fez no relacionamento, mas se não sente raiva que acabou, então é porque assim você queria. 
Se uma pessoa te faz mal, você sente raiva. Você QUER que essa pessoa pague por isso de alguma forma, mesmo que seja um processo pacífico de aprendizado. Mas você QUER isso. Essa é a sensação natural. Isso é o ser humano. 

"Ah mas devemos ser mais evoluídos, ter fé, não causar o mal" - não to dizendo que é pra sair tramando vingança de novela mexicana não. Estou dizendo pra pararmos de fingir santidade; os santos - se existem - estão num nível fora do humano. Você é humano. Aja como tal. 
Se realmente se deseja evoluir, tem que primeiro reconhecer isso. Sentimos raiva e ódio. Sentimos isso porque temos paixão. Paixão por inúmeras coisas: estar aqui, ter pessoas queridas, fazer milhares de coisas que amamos. Temos paixão pelos nossos sonhos. Tudo que nos define. E sempre que nos frustramos com algo que de alguma forma nos define, sentimos raiva. 
O segundo passo é o que você faz com isso.

A raiva que se transforma em vingança - com o perdão de não imitar o Seu Madruga - em geral é autodestrutiva sim. Torna-se uma obsessão muitas vezes, insaciável.  
Mas vamos ser sinceros que vocês sempre querem lacrar e mostrar-se superiores a fascistas ao invés de sair na porrada e apagar esses vermes, né? A mania de ser um "ser de luz" é realmente podre. Existem casos em que sim, se responde ódio com ódio SIM. Pelo bem na humanidade, parem de hesitar nas respostas a fascistas. Parem de esperar o bem e responder com perdão para gente que mesmo que o mundo tivesse grana pra todo mundo ser rico ainda assim tentaria te matar. E assumam que se eles se foderem, daremos risadas. Eu vou gargalhar, muito. 

Mas voltando..

Sentir raiva de alguma coisa é o gatilho essencial pra mudá-la. Não importa quantas informações você tenha a respeito sobre que te encorajem a fazer isso, você só se mexe quando se incomoda. 
E só se incomoda, quem tem raiva de alguma merda. 
Mesmo que seja de si mesmo. Frustrar-se consigo é um passo necessário pra reconhecer os pontos que se espera melhorar e lutar por isso. 
É óbvio que nem tudo merece frustração. É óbvio que há coisas aonde a frustração não se torna força pra mudar, mas para pelo menos resistir. Isso é parte do processo de viver e amadurecer. Mas o gatilho tá lá. 

Falo com a cara dura de quem vem muitas vezes aqui justamente por isso: porque senti raiva. De tantas e tantas coisas. Botar essa energia pra fora é tão bom quanto receber boas noticias e conquistar vitórias importantes. Porque se não, ou você fica surtado acumulando ódio até explodir, ou fica alienado do mundo, sendo esses pseudo-gurus que não descem do palanque. 

"Ai, você assusta" - ÓTIMO. Prefiro botar medo sendo sincero e vivendo como um ser humano normal, do que explodindo do nada ou fazendo todo mundo se sentir inferior por ter um frágil ego carente de afirmação como um ser evoluído. 

Só quem tem paixão pela vida sente raiva do que ela pode trazer, e só quem se frustra de verdade sabe valorizar os momentos de bonança. A vida imita o futebol: menos modinhas tirando selfie, mais geraldinos pilhados, por favor.