Hey, você aí

Não, não quero seu dinheiro.
Estava mais pra dizer 'Hey Jude', ou algo assim.
Bom, este blog é sobre mim. Não apenas eu, mas o que penso, sinto, etc. Já foi meio invasivo, já foi vazio. E no fundo ainda é legal, pra mim. Meu cantinho de desabafo e filosofia, se assim posso dizer.
Eu sou um livro aberto. O que quiser saber, pode achar aqui. E o que não conseguir, é porque ainda vamos nos esbarrar por esta vida irônica.

The Beatles

The Beatles
Abbey Road

sexta-feira, 9 de agosto de 2019

O fim?

Faz muito tempo que não dou as caras aqui. 
Também faz tempo que eu não sinto que tenha algo a dizer, pra mim mesmo. 

Estive refletindo sobre isso ultimamente. Não posso ser dramático e me culpar total e absolutamente pela escassez de produção artística. Eu, como qualquer outro jovem da minha idade que não nasceu no berço de ouro, tenho que estudar, trabalhar e quando possível me dar descanso. Isso é mais que suficiente pra retirar o tempo necessário ao ócio criativo e ao exercício da arte, em suas mais diversas formas. 
Mais que isso, fica evidente que viver de arte é cada vez menos uma opção, salvo no caso de tudo dar uma acalmada e eu finalmente ter o tempo junto com o dinheiro - finalmente, presente de alguma forma - necessário pra financiar a primeira fase dessa tentativa hipotética. 

Porém, vai muito além desse quesito "sem tempo". Verdade seja dita, a música ainda segue viva em mim, ferve e me dá ideias que volta e meia eu sento e anoto quando consigo focar. As melodias seguem na cabeça, e sei que naturalmente serão transcritas em harmonia com o tempo disponível. Mas escrever, em si, como eu sempre fiz aqui por anos, tem sido uma tarefa árdua e rara. E essa falta do que escrever é o que sinto que explica. 

Basicamente, uma forma de ver a situação é que eu era - se ainda não deixei de ser - um cara muito dramático, como todo adolescente é. Isso facilitou pra sair escrevendo, e tornar o ato fácil. Qualquer meia porcaria ou paixonite era digna de um grande relato épico, embora eu deva ser franco e justo comigo mesmo de admitir que sim, houveram histórias de fato inconcebíveis para o roteiro aceitável da vida mediana. 
Dessa forma, depois que as coisas começaram a engatar de maneira sequencial e extremamente feliz, os dramas começaram a desaparecer.

Verdade seja dita, eu sempre foquei mais em pequenos dramas cotidianos e emocionais de fácil resolução, pois os grandes e indomáveis assim o são e eu acostumei desde cedo que não havia muito o que fazer. Falar sobre o divórcio traumático dos meus pais, a terrível degradação psicológica do meu pai num abjeto protofascista, a dificuldade de estudar residindo numa casa com mais de 30 cachorros e a família brigada, tudo isso foram coisas que sempre escaparam ao meu controle. Assim sendo, não é que eu as ignorasse, mas aguentava como podia - ainda aguento uma ou outra - e traçava meu caminho em busca da alforria, esperando o momento. As coisas que de fato eu podia mudar e nas quais eu me embananava eram praticamente sempre relacionadas a paixonites e pseudo-tramas acadêmicos. 

Como o tempo é rei, eventualmente eu aprendi a lidar com esses pequenos dramas desnecessários. Alguma hora eu ia ter que amadurecer. E, de quebra, alguns dos grandes traumas também se desfizeram. Eu não vou medir palavras: vivo a melhor fase da minha vida, desde sempre. Realizando alguns sonhos, descobrindo outros, com estabilidade e felicidade. Um relacionamento feliz e sadio, cheio de amor. Mestrado e até mesmo um trabalho - tosco, estressante e nada inspirador, mas um trabalho em meio a um Brasil em crise e condenado a seguir nela até sabe lá quando. Independência crescendo, passo a passo. 

Com tanta felicidade, também cabe dizer - e isso em si também ser uma possível explicação - que não havia necessidade de ficar falando sobre isso e a maneira em que me inspira o tempo todo. É repetitivo. E às vezes, irrita quem quer ser feliz mas se intimida frente a uma pseudo felicidade eterna e ininterrupta. É claro que há momentos de problemas, mas é difícil expressá-los adequadamente quando se reconhece que o saldo positivo é melhor. E se tem algo que eu detesto é soar repetitivo. 

Mas o motivo maior, e já salientado aqui, é provavelmente o amadurecimento. Os problemas que eventualmente aparecem são melhor avaliados pelo olhar de uma pessoa razoavelmente calejada da vida. Igualmente, é mais fácil reconhecer a verdadeira dimensão da realização encontrada. É extremamente tóxico ficar procurando sempre algo a melhorar quando você sabe que está vivendo algo bom e deveria desfrutar disso. Não que seja desculpa pra se acomodar. Mas o desejo de melhoria não pode te tirar da felicidade conquistada.

Então é isso, eu tenho desfrutado. Muito. 
Não tenho sentido necessidade de escrever. Não tenho me forçado a refletir pra além do que já me passa na cabeça, porque talvez eu finalmente tenha captado minhas próprias mensagens, escritas ao longo do tempo nas entrelinhas da minha história errante. 
E quando você se entende, você se entende

Talvez o sinal derradeiro seja que eu não me comovo mais pela sombra da imaginação tentadora dos multiversos. Leia-se: eu não fico mais pensando esperançoso no "e se isso aqui tivesse sido assim" ou "e se naquele dia eu tivesse  feito aquilo". Constantemente eu imaginava essas situações, imaginando se minha vida estaria melhor. 
Hoje, eu até imagino. Mas estou absolutamente convencido de que não, os futuros alternativos não me interessam muito. Entendi a mim mesmo de tal forma que sei que não importa se eu refizesse uma escolha ou tomasse uma outra atitude sei lá, com 15 ou 18 anos em alguns contextos específicos. E não importa mesmo que eu tivesse a maturidade que tenho hoje. 
Pra começo de conversa, se o roteiro não tivesse sido exatamente o que eu segui, eu não estaria agora como estou. Necessariamente. Em segundo lugar, eu amo a situação em que me encontro. E o mais importante: mesmo que a minha mente fosse a dos meus 25 anos, é provável que eu tomasse decisões que vão completamente no oposto do que meu eu dos 15 e 18 fariam com suas segundas chances. Aqueles "e se" imaginados pelo meu espírito no passado só alimentam incertezas que, vistas sob o olhar do meu presente, se provam fúteis e extremamente mal fundamentadas. 
Por mais tentador que seja o futuro alternativo. Eu acho que ia precisar de um comprovante escrito por entidades cósmicas dizendo que eu viveria de música, podre de rico, mas com a mesma maturidade emocional, mesmo relacionamento, mesmo aprendizagem, mesma relação familiar, mesmos amigos. Só assim eu consideraria um futuro alternativo. 

Não é que eu não veja que posso melhorar isso ou aquilo. Mas eu cansei de me culpar por não viver coisas que hoje eu sei que não eram devidas ou corretas em dado tempo. Eu tenho feito às vezes até mais do que posso, e tenho sido compensado por isso. Só era meio leso pra entender. 

Mas esse não é um post sobre gratidão forçada. Esse é um post sobre admitir que até o drama em si era necessário. No sentido de que foi apenas pra eu entender depois que não era. A aprendizagem é um processo árduo. Ao menos pros cabeças duras como eu, é. 
Eu não faço mais os mesmos melodramas, eu me entendo muito mais como pessoa e passei a me respeitar mais, me cuidar na medida do possível. Recebo amor tanto quanto dou. E passei a viver mais pé no chão, cultivando o que posso. 

Por isso, escrever tem sido difícil. Acho que nos acostumamos, todos, com manchetes apocalípticas (mais e mais hoje em dia). E paradoxalmente, respondemos com nossos pedaços de filosofia barata, banhados em otimismo superficial e reluzente de legendas do Instagram; fingindo na cara dura que os males que consumimos não estão por aí e que são facilmente solucionáveis. Eu não sou esse cara, eu tento não ser ao menos. Seria extremamente insultante ficar batendo palmas pra mim mesmo e minha felicidade todo santo dia, ao invés de cuidar bem disso e ir aproveitando, consciente da ciranda diabólica que o mundo se tornou e preparado pra me defender disso. 

Então eu nem sei, de fato, se esse é ou será o último texto que posto aqui. Mas senti que era necessário deixar uma outra carta de alforria, perdoando o que eu pudesse perdoar de mim e lembrando o imperdoável pra não fazer merda de novo. Que fique aqui registrado que eu me deixei livre pra viver o meu presente, ainda que o registro seja tardio frente o tanto que tenho vivido.  
Guardo pra mim o carinho dos que me acompanham, fico atento aos que me querem e tentam fazer mal. 

Um abraço para os bons futuros que eventualmente eu construa. Desejo a você que lê que se liberte dos seus "e se"; ou que pelo menos dê risada de se pegar imaginando. 

PS: Tem que ter, é uma carta. Você gosta de manchete apocalíptica e veio ler quando viu "O fim".
PS2: Até a vista. Ou na crise dos 27, pra evitar entrar no Clube.