Hoje foi um daqueles dias tediosamente sem graça. O cinza do tempo e o frio da chuva são coisas que desanimam qualquer ideia de sair. E a preguiça usual perante o fato de que acabou-se o que era doce e de que agora a rotina vai voltar.
Manter as gravações não vai ser nada fácil. Mas estou pela metade do caminho e não posso parar agora. Eu sei que posso dar meu jeito e tocar tudo como eu sei que consigo. Vai dar tudo certo, no fim.
Mas tem algo me faltando. E não sei dizer bem exatamente o que é.
Se você vier me falar que é mulher, num primeiro momento eu vou concordar.
Rir litros, fazer diversos comentários e piadas infames. E se você for uma mulher solteira e bonita, pode levar uma cantada sem saber. Mas não é a valer, provavelmente.
É óbvio, claro e certo como água, que tem uma mulher me faltando nesta vida. Alguém pra dedicar esse meu amor tão intenso e tão batalhador, cheio de orgulho e força. Mas, tão certo quanto isso, é o fato que espero mais que alguém que eu possa dedicar isso. Espero alguém que mereça isso. E que também possa me dar no mesmo nível. E até eu encontrar alguém que me faça acreditar que isto seja possível de se ver nesta pessoa, mais do que ninguém eu sei que vou precisar de algum tempo ainda. É mais curto talvez do que eu espero, mas provavelmente mais longo do que eu quero.
E justo por isso, o que me falta, talvez, não seja isto, cuja falta já estou e sempre estive acostumado desde que me percebi como o ultra romântico que sou.
Pois bem cabe dizer novamente, o vazio se preencheu sozinho. Não foi por pessoas, embora algumas tenham contribuído. Fui eu mesmo quem resolveu o meu problema, como assim deveria ser.
Fui eu que, mediante as últimas dificuldades, consegui emplacar novas conquistas, e perceber que o que me faltava pra me sentir mais forte não era uma pessoa, mas, eu me sentir capaz de merecer a felicidade que procuro. Eu conseguir sentir a paixão em tudo que faço, em 100% sem arrependimento. E seguir atrás dos meus sonhos. Eu caí de cabeça, mesmo que não completamente, mas caí. E foi essa queda que me livrou do peso. Engraçado dizer isso.
Pensar que a gravidade pode nos tornas mais leves quando abandonamos as travas perante um precipício incerto, sem nenhuma ponte amarrada.
Claro, não vou negar, existem coisas maiores e que eu ainda almejo.
Talvez o que me falte agora sejam pessoas. Tenho os melhores amigos do mundo, mas existe gente que também estava nessa lista, e que se dependesse de mim sempre estaria. Mas a vida tem suas artimanhas, e cada passo dado pra uma nova direção é um pequeno adeus a pessoas que poderiam estar do meu lado.
Talvez seja isto mesmo. Recentemente, vacilei em meu ciúme. Pior que isso, escutei o orgulho na hora errada.
Mas não vou me culpar inteiramente. Em algum momento, faz-se necessário. Ainda mais para os orgulhosos como eu. O problema foi cair em si nas consequências do ato.
Sabem, orgulho é importantíssimo. Orgulho é saber dar valor a si mesmo, saber quem somos. Orgulho é saber que tudo que fizemos e passamos é bom, no fim das contas, porque nos faz chegar aonde estamos e da forma que somos. E escutá-lo nos priva de sofrer coisas muito desnecessárias. Nos faz inclusive mostrar a algumas pessoas que elas devem talvez dar mais valor a quem somos.
Mas existem horas que o orgulho deve ser posto de lado. Não é o tempo todo, claro. Mas algumas ocasiões, são tudo. Eu, que sempre acabava fazendo a grande burrada de deixar o meu orgulho calado sempre que me apaixonava, levando a grandes pancadas.
Depois de tanto, por burrice, repetir o erro, resolvi escutá-lo. Dei-lhe o megafone, e ele bradou aos 7 ventos, como o leão que levanta de sua sombra junto às árvores secas do calor depois de meses de fome, para dar o golpe de misericórdia na zebra desavisada. Da zebra não sobram sequer os ossos. O leão sai satisfeito.
Mas naquele dado momento, talvez eu devesse tê-lo segurado. Com certeza, não nego.
O leão matou aquele sentimento de amor, do jeito que eu precisava que fosse feito. Guardou e enterrou lá com suas outras carcaças. Ai de quem não lhe der bons motivos pra baixar a guarda.
Porém não me remediou. Sinto a falta da brisa que soprava leve e aconchegante nos meus desertos. Não a quero pra mim, mas sinto sua falta, sua presença era algo divino e que eu não podia ter arriscado perder.
Também sinto a falta do pássaro que se atrevia a voar nos meus céus e fazer sombra a minhas ideias.
Não amo, não amo mais ninguém. Quero muito amar mas não amo ninguém. Porém, essas pessoas me fazem muita falta, hoje.
Não sei bem a que tantas o meu caminho vai seguir. Não sei nem dizer, de fato, se perdi essas pessoas pra sempre ou por agora. Só sei que me incomoda, me deixa inquieto, me tira o sono.
Não consigo mais dormir antes das 2, não consigo mais passar um dia sem pensar nisso.
E se não é isso que procuro, uma forma pra preencher esta saudade que parece não poder ser morta, então definitivamente não sei o que procuro.
Mas é certo, hoje, vi com clareza como ainda me sinto incomodado com algo. Que falta alguma coisa, e que eu posso ter se perseverar. Ou não, mas sou otimista/burro demais pra pensar de outra forma.
Só sei que nada sei. Só sei que não amo mais ninguém que não os amigos. Só sei que quero amar.
Esqueço o resto e sigo em frente, deixo o passado ficar e dou as costas. O que está feito, está feito. E que venham novas histórias.
Recado de Beto Guedes
Há 3 anos