Hey, você aí

Não, não quero seu dinheiro.
Estava mais pra dizer 'Hey Jude', ou algo assim.
Bom, este blog é sobre mim. Não apenas eu, mas o que penso, sinto, etc. Já foi meio invasivo, já foi vazio. E no fundo ainda é legal, pra mim. Meu cantinho de desabafo e filosofia, se assim posso dizer.
Eu sou um livro aberto. O que quiser saber, pode achar aqui. E o que não conseguir, é porque ainda vamos nos esbarrar por esta vida irônica.

The Beatles

The Beatles
Abbey Road

sábado, 27 de dezembro de 2014

About a girl

Se possível, empreste o ouvido (ou os olhos) pra se ater ao que devo relatar.

Quis a vida que eu a encontrasse. Não havia uma razão exatamente justificável pra que isso acontecesse. Talvez fosse o pior momento, para ambos. Mas assim o foi.

Não pude deixar de notar, desde o primeiro instante, a forte empatia que para com ela tive. Aliás, eu até sabia o que era empatia, mas nunca havia sentido dessa forma. Ela gosta da palavra. Fez-me achar interessante, também.

Fez-me relembrar o que é sentir-se bem pela simples presença de alguém na sua vida. O que é achar graça num comportamento até bobo em dado momento aleatório. E aliás, acho que nunca me envolvi num meio de falas e eventos tão aleatórios quanto estes aos quais fui exposto devido a existência dessa, digamos, ninfa. 

Ninfa é um dos poucos termos que conheço em meu vocabulário que consegue descrevê-la quase em sua totalidade. Quase, pois é um nível de complexidade tão denso que sinto que adentro um universo particular quando tento conhecê-la mais. E honestamente, a maneira com que sorri - tão tenra - pra mim,enquanto me guia nesta jornada (tão veloz quanto seu passo possa permitir) de alguma forma me alegra. Mas atendo-me à alcunha de ninfa: seus traços remetem a um quê de Europa, algo nórdico e místico. E tal como as ninfas gregas, este ser bailarina pelas florestas e campos verdes com a vivacidade mais espontânea e indomável que posso recordar de ter mirado em vida. Lança feitiços de paixão aos desavisados e inocentes, sem nem recordar-se de tê-lo feito. Mas não se pode acusá-la de nada. É seu jeito, é apaixonada pela vida que leva. Quando focada neste jeito, é genuinamente feliz, e aqueles que de fora atentarem hão de concordar que vê-la feliz é talvez a coisa mais sincera e preciosa, e que os custos para preservar isso jamais serão altos a quem puder pagar.
Perde-se em seus próprios saltos, e atira-se totalmente entregue nos meus braços. É sempre de surpresa, sempre quando eu não espero. Mas por alguma razão eu consigo ter tempo de apoiá-la, recebê-la com todo o carinho que posso oferecer. O carinho que ela me inspira a dar. Ninfas têm dotes artísticos, rezam as lendas. Ela parece possuir todos.

E foi nesses dotes que me conectei de verdade à ela. Já haviam milhares de razões para nos aproximarmos, mas esta foi o carro-chefe, a solda definitiva. Aquilo que nem eu e nem mesmo ela poderíamos prever ou especular. Muito sem querer, construímos algo. Algo que ainda não sei definir. Sei que faz parecer natural qualquer coisa que disserem a nosso respeito. Dirão que somos amigos, amantes, namorados, e quaisquer outros status possíveis. Todos vão parecer plausíveis. Todos vão parecer algo que em dado momento buscamos ou buscaremos. A incerteza do tempo não tira a certeza do laço: a música nos fez um do outro

Talvez seja triste limitar tal pertencimento à música. Talvez não. Sempre detestei indecisões, mas ela me trouxe algumas muito relevantes. E as que nela habitam se tornaram alvo de minhas preocupações, de meus anseios também. Tanto a se ganhar, tanto a se perder...
Se estivéssemos num jogo de perguntas e respostas, seríamos eliminados pelo contador de tempo. Em pensar que sempre fui extremamente decidido e objetivo..

Gosto de quando estamos juntos. De como nos divertimos falando das coisas que odiamos e amamos. De como nos entendemos falando do meu passado ou do dela, que por azar ainda é meio presente. Gosto mais ainda de como eu sempre encontro um jeito de fazê-la se conectar mais comigo, apesar de todo o cenário e das mil razões pra que isso não acontecesse. Engraçado, sempre estive acostumado a lutar contra o mundo pelo que queria; e embora pareça que eu estou lutando, tenho feito tão pouco esforço e as coisas deram muito resultado, no que cabia. 
Gosto quando ela se joga nos meus braços, e me puxa pra si sem querer. Gosto quando felinamente se entrelaça com meu corpo e faz seus cabelos lhe caírem da forma mais sensual no rosto. Gosto de perambular entre esses cabelos, beijá-la. Gosto dela. Ela me faz bem.

Não sei se foi nosso último beijo, não sei se foi o último toque. Não sei também se é amor, se será amor. Pelo menos da perspectiva romântica. Eu gostaria de estar chateado. Chateado com a certeza de que fora o último, chateado e com raiva e com algum motivo para não pensar mais nisso jamais em vida. Motivo o suficiente pra que ela não discordasse. Mas eu não consigo.
E também não quero tentar conseguir. A ironia que nos rege poderia me levar a amá-la em definitivo na minha tentativa de odiá-la. No momento, só sei que a necessito. Preciso de sua presença. Ela me faz bem. 

Achei uma amiga fácil que é livre a noite. Espero ainda o dia pra lhe acompanhar nas auroras, aquecendo-a ante o vento do norte.  


sábado, 13 de dezembro de 2014

Step by step

Não precisa pressa. 
Não precisa ansiedade. 
Até porque quando está comigo, você esquece da hora.
E de livre e espontânea vontade.

Não precisa aviso.
Não precisa preocupação.
Até porque eu sei muito bem aonde estou me metendo.
E convenhamos, tem sido bom que eu me meta.

Não precisa tensão.
Não precisa nervosismo.
Até porque você sabe como relaxar no meu colo.
E eu acho a coisa mais fofa do mundo te ter nele.

Não precisa medo.
Não precisa pânico.
Até porque eu só seguro a sua mão quando você quiser.
E você sabe que um dia você vai querer. Comigo ou não.

Enfim. 
Não precisa ter medo do que ainda não veio, do que talvez nunca venha. 
E não precisa pensar em sacrificar o que existe por esse medo.
Mas saiba que independente de tudo, eu jamais poderei te esquecer.
E espero que possamos viver o nosso melhor juntos. Seja ele o que for.

Never ask me to say I don't care about you, never tell me to not worry. I'll always care about you, I'll always worry about you. And I'm proud. Of you, of us. Always gonna be.


quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

O ballet de Bougainville

Plié.

1º ato. Um clima nostalgicamente triste, pianos e violoncelos. Soa um tanto confuso. O espectador está muito interessado, mas ainda não consegue identificar o enredo e até mesmo a personagem principal. Também, quem manda entrar levemente atrasado. Perdera a entrada principal, e grande parte dos acontecimentos que teriam impacto direto no desenrolar da dança. Ele pensa em levantar.

É aí que a vê. Se destacando de leve, entre toda a companhia. Entre cada salto leve, cada olhar curioso e aéreo, ela insinua sua presença ante o espectador, que se atém. Não consegue levantar, não consegue nem piscar. 

Cada movimento por ela executado levanta uma ideia, e ela faz tantos ao mesmo tempo que o espectador não consegue mais fiar a linearidade dos argumentos corporais. Ele simplesmente se perdeu acompanhando-a com o olhar, porém não consegue não continuar fazendo-o. 

As luzes estão se apagando, e o espectador, ignorante, levanta e bate palmas. O susto distrai a bailarina, que erra o salto e tomba. O público vaia, o espectador se encolhe em seu banco cheio de vergonha. Olha a bailarina, ainda no chão: ela o fitava, magoada. Sim, magoada! Ela não o odiava, não o detestava, e nem mesmo o cobrava. Ela só não esperava aquela reação. Ela estava exposta, estava fora de seu mundo. A dor não lhe cabia, ela não a aceitava. Do espectador, ela não queria palmas. Não agora.

Fim do 1º ato. O espectador vai remoendo os últimos minutos passados. De súbito, se vê com uma ideia. Levanta, apressado. Checa o cartaz na entrada do teatro:

"Ballet de Bougainville"

Não consegue conter o sorriso. Se apressa mais ainda, sai do teatro.

Começa o 2º ato. O clima era outro. Como uma tarde de sol, céu claro e poucas nuvens. Gosto de férias aos que merecem. Entra novamente a bailarina, recém recuperada da queda. Na verdade, ela ainda busca se recuperar. Tem o voto de confiança da platéia, mas ainda não sabe se será capaz de brilhar acima da mancha anterior. 

Entre piruetas e alguns passos, com toda a delicadeza que lhe cabia, mirou na direção daquele espectador, quase que como desafiando-o a provocar outro problema. Eis que se surpreende: o banco estava vazio.

No primeiro instante, julgou que assim seria melhor. Mas, poucos segundos depois, pensava se não havia sido dura demais com o pobre sujeito. Pensava que talvez, se ela pudesse superar o ocorrido, ele também poderia esquecê-lo e nenhum dos dois sairia ferido daquela apresentação. Pensava, demais. Não devia, mas pensava.

E de tanto pensar, perde o foco nos movimentos. Seu rosto, de fragilidade amável e doçura gentil, franzia em frustração e inquietude. Contrastava demais com a música alegre ao fundo. Mais um salto, e a perna fica bamba.

Ela ia cair, novamente. Ia, de fato. Foram segundos de desespero: pensava nos ensaios duros e cansativos, nas coisas que deixara de fazer, no quanto aquele momento lhe era importante e agora tudo iria por água abaixo. Tudo em função de um maldito espectador. 
E ao tocar o chão, ouviu um som abafar sua queda. 

Mais que isso, algo havia simplesmente arrastado todos os olhares da platéia para os fundos do teatro. 

Era o expectador, que havia batido a porta de emergência. Trazia um buquê nas mãos. 


Eram bougainvilles. Ah, ele não podia estar mais certo. Estivera errado o tempo todo, mas estava tão certo que os olhares de reprovação do público pouco lhe importavam. Ele só mirava a bailarina. Esta, ainda estatelada no palco, estava incrédula. 

Acontece que o espectador acabava de lhe salvar. Por um único segundo, chamara as atenções todas pra si, no exato momento em que o foco na bailarina poderia ser fatal para todos. Ela então se recompõe rápido, segue seus passos, e sorri para seu herói atrapalhado.

Ele volta, quase exorcizado pelo resto dos presentes, a seu lugar cativo. Buquê em mãos. Não consegue tirar os olhos da bailarina. E então é ele quem se surpreende: agora ela retribuía. 

Naquele instante, ele era feliz. Feliz por ter a ideia certa, feliz pelo acaso que lhe promovera a um novo status. Feliz pela chance de encará-la, olhos nos olhos, e - pelo tempo que fosse - participar de seu mundinho particular. Esperou, pacientemente, cada movimento e cada sorriso da bailarina. Reparou na luz que realçava cada centímetro de sua beleza, e que refletia nos cabelos castanhos e de pontas ruivas devidamente planejadas. Desejou tê-los ao redor de seu peito, ou caindo por seus ombros. 

Ela estava feliz, naquele instante. Feliz porque ele havia voltado, não estava magoado. Feliz porque tudo havia dado certo no final. Feliz porque eram bougainvilles. Feliz porque ele não havia desistido de vê-la brilhar. Feliz a ponto de dançar o melhor que já tivera dançado em vida, sem sentir a pressão do momento. Voou linda, de ponta a ponta do palco. 

Fim do 2º ato, chuva de palmas. Alguns estão emocionados. Mas ninguém poderia entender ou imaginar o sentimento compartilhado pela bailarina e seu atrapalhado espectador. Ainda trocavam olhares, os dois.

Horas depois, batem à porta do camarim. A bailarina abre. Um buquê, uma carta. Um convite, na verdade. Ela se vê aflita: viajaria em algumas horas para a Suécia com a companhia. O que faria?

O espectador não sabia disso. E se soubesse, talvez não lhe importasse. Ele estava na saída do teatro. E com o mesmo sorriso de um pouco mais cedo, recostava-se na parede. 

Era uma terça-feira, fazia calor. Nuvens começavam a se formar, talvez chovesse. O ballet tinha acabado. Não se sabe, porém, o que havia começado.








segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Irrefutável

Quando o céu se aquietar, sem nuvens nem vento, e ainda assim chover.
Quando o sol não brilhar em nenhum momento, e ainda amanhecer. 
Vou lembrar de como te conheci.

Quando a vida nascer, em meio à guerra, e ainda viver.
Quando a morte vier, calma pela noite, e ainda assim doer.
Vou lembrar sua destreza em me fazer feliz.

Quando tudo que conheço não passar de ilusão.
Quando o que desconheço for realidade.
Quando eu amar outro alguém, até de verdade.
Ainda assim, vou querer estar com você.

Quando o lírio desabrochar, sem água nem terra, e ainda crescer.
Quando o vulcão acordar leve e discreto, e ainda tremer.
Vou lembrar que nunca tive você.

Quando o rio secar triste e mesmo assim correr.
Quando o homem exterminar e hipócrita, dizer se arrepender.
Vou lembrar que lutamos juntos.

Pois quando tudo o que existe se extinguir.
Quando a paz e o amor em guerra se findarem.
Quando a dor e o sangue forem irmandade.
Vou pensar que devíamos estar juntos.

E quando a vida disser que é a hora da morte.
Quando os sinos da igreja cantarem à vontade.
Quando por fim eu, exausto, e em lealdade.
Te direi que você eu amei de verdade.