Hey, você aí

Não, não quero seu dinheiro.
Estava mais pra dizer 'Hey Jude', ou algo assim.
Bom, este blog é sobre mim. Não apenas eu, mas o que penso, sinto, etc. Já foi meio invasivo, já foi vazio. E no fundo ainda é legal, pra mim. Meu cantinho de desabafo e filosofia, se assim posso dizer.
Eu sou um livro aberto. O que quiser saber, pode achar aqui. E o que não conseguir, é porque ainda vamos nos esbarrar por esta vida irônica.

The Beatles

The Beatles
Abbey Road

sábado, 7 de outubro de 2017

A infalível lei de Pacman

Eis o cenário:
Estava eu, entediado, em uma aula eletiva - até interessante, mas daquelas que pegamos pra terminar os créditos necessários - aguardando seu fim. Essa é daquelas que presença vale ponto e o professor faz questão de passar lista sempre no fim da aula. Tá, ok até aí.
Só que neste dia, além da quantidade exorbitante de conversa durante a aula - que pesa bastante quando a sala é pequena - a rapaziada decidiu que ia dar de bucha dos colegas que ali não estavam presentes. Nada contra, quem nunca precisou faltar? O problema é que isso atrasou consideravelmente o tempo que a lista levou até chegar em mim. E quando eu digo consideravelmente, leia-se pra caralho.
Eu não sou um sujeito paciente, acho que todo mundo já sabe disso.

Finalmente saí eu, de lista assinada e revoltado, tentando entender por quê numa matéria aonde a maioria absoluta da turma tem mais de 25 anos as pessoas pareciam não ter capacidade mental de pelo menos prestar-se a assinar pros colegas que não foram DEPOIS de quem estava lá, e portanto, tinha prioridade. Eu me perguntava por quê diabos era tão difícil que gente que talvez fosse até mais velha que eu em tempo de faculdade ainda se comportava como calouros incapazes de levar qualquer coisa a sério ou pensar nas consequências de seus atos. "Essa gente vai se formar, vai ser profissional caralho. Será que é tão difícil respeitar os outros e não ficar com essa média pra favorecer amigo?"

No fim das contas, eu estava malhando um pouco além do merecido - porque é, e bastante - os ditos cujos. Mas o motivo era simples, não era daquele dia que eu vinha impaciente.
Minhas últimas semanas (talvez eu possa colocar aí desde que voltei de Maria da Fé, em Minas) têm sido bastante desgastantes. E naquele dia, eu parei pra refletir sobre isso mais a fundo.
A causa era uma só: a faculdade.

Devido à faculdade, a cada período que eu avançava, tive que me dedicar ainda mais do que já estava dedicando no anterior. Some à isso o acúmulo de projetos - porque o idiota aqui não sabe ficar parado - e aí você começa a mapear tudo que tenho ganhado de problemas e perdido de vantagens.

É por causa da faculdade que inúmeras vezes, mesmo tendo dinheiro (raro, mas rola) pra ir com meus amigos em algum lugar, falta o tempo. Sou obrigado a ficar em casa e estudar ferrenhamente, e a verdade é que isso se intensificou tanto nos últimos anos que tem uma quantidade absurda de pessoas com as quais perdi contato. Pessoas por quem eu realmente nutro e nutri afeto. Muitas eu perdi, e nem sei se agora vai fazer diferença. Mas outras eu sinto falta. Meus principais amigos eu não consigo mais sair e ver, é raro.

A minha banda se estagnou não por minha indisponibilidade, nem do Zé. Mas a faculdade me impede de sentar pra ensaiar, compor e caçar novos integrantes que possam nos fazer voltar à ativa. Em pensar que há quem goste, que queira ouvir. Surpreendentemente, eu sou cobrado por isso com alguma frequência. Mas não o suficiente pra eu conseguir atender.
Piada a minha, eu não consigo me dedicar pra retomar isso. Quero, não consigo.

Honestamente, eu sequer consigo levar minha namorada no cinema às vezes. Sorte a nossa podermos conviver próximos, manter sempre o contato e o carinho. Mas eu queria poder mimá-la mais. E adivinha: a faculdade me tira esse tempo, e por vezes o dinheiro também!

Tudo isso se junta com a eminente aposentadoria da minha mãe nos próximos anos (que não serão muitos). Isso significa, dentre outras coisas, que eu necessito arranjar sustento pós formatura, e encaminhar isso não tá sendo fácil - porque NEM NISSO a faculdade colabora.

E eu tô muito perto da formatura. Simplesmente, não tenho mais saco pro ambiente que é o lugar. Pro clima de maternal que os professores propõem, em sua grande maioria, nas aulas. Ficou enjoativo, é algo que na maioria das vezes eu faço arrastado. Cheguei a questionar se estava no caminho certo, típica dúvida que não é de me bater.

Não é que eu esteja aqui dizendo que vou largar tudo. Mas a pressão da vida adulta resolveu se fazer presente de forma fixa, e eu não tive nessas semanas um horizonte firme. Isso pesou, senti pesar bastante. Senti que poderia estar desperdiçando tempo em algumas situações, e que no futuro não o recuperaria. Eu não sabia bem dizer o que estava pra acontecer, sendo que eu tenho prazo pra que aconteça se eu quiser tornar reais metade dos meus planos..
Mas eu tenho um problema.
Eu sou impaciente.

Eu sou tão impaciente que eu não consigo entrar nessa de ficar numa bad remoendo as dores. No mesmo dia em que todos esses pensamentos se acumularam, tirei pra conversar com algumas pessoas. Soltar todas as coisas que me vieram à cabeça, e também reparar o que eu podia.

Sim, reparar. Eu sei que não estou cometendo sacrifícios à toa, mas eu não posso não quero e não vou abrir mão das coisas que gosto. E, sério, se você não quer perder aquilo que dá valor, faça-se presente. Ao menos na hora que puder, pois será a hora certa.

Nesse mesmo dia, minha impaciência me colocou a pensar sobre como seriam os próximos dias. Se eu ia aguentar a rotina, se não ia surtar. Apesar do clima, eu tentei manter a frieza.
Nessas horas sempre ajuda.

Talvez não tenha remédio melhor que olhar pra trás, pensar no que já foi. Pois, justamente, já foi.
Não importa o tamanho, a complexidade. Foi. E se foi, é porque se trabalhou pra que fosse. Todos nós enfrentamos uma infinidade de problemas no passado, e em algum momento os superamos. Isso prova de forma muito clara que não existe uma restrição infinita à nossa capacidade de continuar rompendo barreiras. Em algum momento, a realidade nos dará a oportunidade de mudar as coisas. É necessário olhar pra trás, pensar que se já foi tanto, mais um tanto não é nada.
Dá medo pra caralho, assusta, mas porra, uma hora vai né. O medo tá aí sempre, fazer o quê, como fantasmas famintos caçando.

E aí se explica o título.

Percebi essa coincidência no mesmo dia em que a bad bateu, e de repente vi que fazia muito sentido:
A vida adulta é exatamente igual a Pacman.
Tipo, sério.
A gente corre igual um condenado, quase sem parar. Precisamos de pontos, sempre - leia "pontos" como qualquer porra que seja sua meta, momentânea ou de vida - e somos perseguidos de forma contínua por nossos fantasmas:a pressão pelo sucesso, as contas pra pagar, as pessoas negativas ao redor, etc.
Repete-se aqui: de forma contínua. Já jogou Pacman alguma vez? Se você já jogou, queira relembrar o que rola quando você fica parado mais de 5 segundos. Se não, deixa eu dizer:
VOCÊ SE FODE, OS FANTASMAS TE CERCAM.
Simples assim. Será que deu pra pegar a analogia?

Não é que você não possa parar um instantinho pra recuperar o fôlego e tomar a melhor decisão. Não é que você não possa ter medo de todos os problemas que surgiram e sentir-se mal por isso.
Mas você não pode simplesmente ficar parado esperando a solução. Ela pode até aparecer sozinha, mas só vai dar as caras se você se mexer. Você PRECISA manter-se em movimento, a todo o custo.
Com a experiência, será possível aplicar vários perdidos nos fantasmas pra ganhar tempo pra quando precisar parar, e também será possível achar aqueles bônus que vão te permitir comer até mesmo essas desgraças.
Mas lembre-se: novos fantasmas virão. Então, continue correndo.

Apesar do medo, da dificuldade, do inferno que for. Ponha-se em movimento, mesmo que seja pra chorar em movimento. Mas anda, que a vida anda, os fantasmas correm e só dá pra comê-los se você caminhar até o bônus.

Curiosamente, esta semana participei de algumas experiências muito legais na faculdade, pude retomar assunto com alguns amigos cuja presença me faz falta, peguei um merecido cinema com a namorada ontem. Tem jeito não, é isso: lei de Pacman.
Só preciso parar pra correr LITERALMENTE, porque a faculdade me tirou o tempo de exercitar pra perder a barriga de cerveja.