Sinto um pouco de nada, por vezes.
Um nada chato, tedioso, e ao mesmo tempo incrivelmente curioso.
Sei que não faz tanto sentido. Mas é curioso: como é possível se instalar uma sensação vazia, com tantas coisas positivas e mesmo negativas a se pensar e sentir?
Não sei bem explicar tal fenômeno, e por isso me soa ainda mais curioso quando paro pra pensar a respeito.
Talvez o meu complexo de maturidade precoce esteja adiantando a famigerada crise dos 27 anos. Ou o mundo a meu redor ande tão precoce com casais firmes (e até casados) e colegas tendo filhos que eu sinta como se estivesse perdido no caminho da vida. Como se o bonde estivesse passando, e eu assistisse lentamente sem poder de reação alguma.
Como se as pernas pesassem toneladas e afundassem no chão como na areia movediça.
Mas o mais estarrecedor é que me queixo pouco. Há algum conformismo da minha parte, nesta tranquilidade tediosa (e nem por isso vantajosa e positiva em todos os sentidos), e que parece se justificar. Baseado em quê, essa é a questão.
Engraçado como essa sensação é familiar pra mim. E depois de alguns minutos pensando, finalmente consegui entender por quê:
Trata-se, simplesmente, da minha postura com transporte público.
Tá, agora soou mais absurdo ainda. Mas faz todo o sentido.
Quando eu estou no ponto de ônibus, geralmente estou sempre adiantado. Tenho uma folga boa pra encarar engarrafamentos, imprevistos, etc.
Quando passa uma van ou um ônibus que me serve, mas está um pouco cheio, eu não subo.
Simplesmente por falta de comodidade. "Daqui a pouco tem outro mais vazio." - penso eu. E de fato, tem sim. Sempre tem, sempre vem uma opção melhor. Pode demorar mais 10 ou até mesmo 20 minutos, mas passa. E dá tempo de chegar onde quero, como quero, e de maneira mais folgada. Menos custosa. Dá pra chegar "feliz", por assim dizer, ao ponto que eu queria, sem um stress desnecessário. Salvo raras exceções de eu estar atrasado. Engraçado constatar que, sempre que eu espero por uma opção melhor e a consigo, a cabeça dispersa dos mil pensamentos aflitos e relaxa com mais facilidade. Submeter-me ao stress faz com que eu pense mais ainda nos problemas.
Fechando a analogia: eu estou fazendo exatamente isso neste exato momento com o panorama geral da minha vida. Estou esperando um ônibus melhor. Estou parado, no ponto esperando, com mil coisas na cabeça, e me preocupando com algumas delas. De repente passa uma van lotada, e eu fico com preguiça de encarar. Tá certo mesmo. Daqui a pouco vem outra, mais vazia. Vou escutar umas músicas e relaxar, chegar onde quero. Tudo no seu tempo.
Fiquei feliz em perceber isso. No fim meu instinto pode até não ter no que se basear, mas está certo e posso confiar nessa intuição. Estou levando a vida como levo meu dia a dia em coisas básicas, e talvez nada possa soar mais natural para alcançar uma felicidade plena.
Pegar um lugar na janela, encostar a cabeça e por os fones.
Recado de Beto Guedes
Há 3 anos